O desejo de escolha do quarto do primeiro papa jesuíta
O pe. Lombardi, SJ, informa que o
¨Papa Francesco, ha commentato ancora il portavoce vaticano, "sperimenta questa convivenza: è una situazione di esperimento, manifesta questo desiderio di continuare a essere presente nella stessa casa che sta abitando dall'inizio del Pontificato. E dove ora sono tornati i sacerdoti e vescovi che vi risiedevano prima, tra i quali c'è anche il cardinale Giovanni Coppa".
O papa-surpresa não quer dormir sozinho, nos quartos e salas a ele destinados pelos séculos e séculos vividos. O papa-surpresa não quer acordar entre quartos e salas que, segundo ele, comportam 300 pessoas¨. O papa-surpresa sabe o valor da glória e das dores da comunhão. O papa-surpresa não quer ser ex-comungado, no sentido mais simplezinho da palavra, que é o ¨drama de ser alijado da con-vivência dos que constituem agora a sua comunidade¨.
Pensando assim, o desejo do papa Francisco não me surpreendeu. Ao contrário, deu origem a uma ação de Graças por seu gesto. Isto porque os religiosos vinculados a Congregações, ¨padres, freiras, irmãos¨, dividem a residência onde moram. Na prática, isto implica orar na mesma capela, partilhar a mesa durante as refeições e, no caso que eu conheço um pouco melhor, na Companhia de Jesus, alterman-se na ¨governança¨ da casa.
Ah, cada um tem ¨direito¨ ao seu quarto individual, o que, aos meus olhos, transforma o quarto de um jesuíta num universo totalmente diferente, por exemplo, do meu quarto, onde todo mundo mete a mão na porta e já entra falando o que quer... MÃE ! FILHA ! d. Jussaraaaaaa ! A única vantagem que levo, é ouvir um VÓ delicioso algumas vezes adentrando o meu devassado santuário.
Brinco, mas presto minha reverência ao ¨quarto¨ de um religioso jesuíta.
Fiquei encantada quando um jesuíta me contou: um dia, Pe. Arrupe esteve no meu quarto e autografou a foto (era hábito ter na parede uma foto dele, em sinal de admiração por pessoa tão admirável !). Também eu, autora do ¨Blog do Rahner¨, me emocionei quando outro jesuíta me contou que Rahner esteve no ¨quarto¨ dele ! Isso sem nem considerar a primeira vez que pus um pé no quarto de um jesuíta !!! Oh, Senhor ! Eu me senti pisando ¨solo sagrado¨ !!!
Tentei fazer algo assim, depois da viuvez, com o meu quarto. Na primeira vez que fiz os Exercícios Espirituais de Santo Inácio, esbarrei num problemão que o santo mesmo já tinha alertado: onde rezar. Não se faz exercício físico sem esforço físico e não se faz exercício espiritual sem oração.
Um dia, muito aborrecida com meu fracasso, disse brava e atrevida ao ¨orientador¨ dos EE: o senhor pensa que na minha casa tem uma capela, assim como aqui, na sua casa ? Não consigo silêncio nem um recolhimento efetivo no meio da ¨confusão familiar¨...
E foi aí que levei um tranco ! Sabe o que o jesuíta me disse ? Você, JUSSARA, tem que aprender a construir uma capela dentro da sua cabeça e com o seu coração.
Acho que levei anos para entender o que significava construir uma capela na minha cabeça. E ele me foi relatando sobre as dificuldades deles, os SJs. Tem dia que vc pensa: vou agora prá capela: chega lá, tem um SJ que, justo naquela hora está lá, sozinho, celebrando ... Os exemplos se sucederam e acabei entendendo a reverência que os SJs têm pelo quarto, local onde eles acabam sempre construindo suas capelas mais interiores.
Eu confesso que adoro o jeito de proceder dos SJ, coisa que nem em sonho daria para implantar na minha casa. Um sistema comunitário, com os ônus e os bônus da alternância na direção da rotina da residência de todos. E o que exerce essa governância, leva o título de Superior da Residência. Na prática, cuida e responde por todos aqueles problemas chatos que ¨ninguém merece¨...
E o encarregado desse pesado ofício (extra), recebe o nome de Superior da Residência, embora a cultura brasileira considere esse tipo de trabalho ¨inferior¨ e toda dona ou dono de casa podem confirmar.
Já vi superior cuidando de ¨um, tudo ...¨ Uma loucura ! Mas todos devem se ¨con-formar¨ com seu estilo gerencial. Todos sabem que o exercício de tal superioridade não é vitalício e todos sabem que a inferioridade das compras, cardápios, dietas, saúde, fora tudo que envolve a gestão de complicações de ordem pessoal, dura um ¨certo¨ tempo. Por isso, o religioso que hoje está numa invejável ¨posição inferior¨, sabe que já, já, a chata da Superioridade da Residência vai despejar-se por sobre a sua vida, ¨de novo¨. Daí a solidariedade de todos com o coitado do Superior da Residência... É um sentimento do tipo: eu sei que sou você amanhã ...
Enfim, de todas as obviedades rotineiras que permeiam a convivência humana, religiosa ou não, o importante aqui é perceber que conviver implica se sujeitar à alternância dos humores alheios !
Para mim, o que sustenta a experiência de vida religiosa é a comunhão ! Para nós, cristãos, a partilha da mesa é a mais forte herança de comunhão que ganhamos de nossos irmãos judeus.
Agora, na semana santa, a contemplação da cena da Última Ceia explode os nossos corações diante das experiências humanas que se ali se passam ... Do discípulo amado, o jovem João, à experiência de Judas.
Por isso, a comunhão não pode ser afastada do humano.
Acordar, como ele fez hoje, presidir a celebração, às 7:00, na comunidade que com ele reside em Santa Marta, fazer com esta comunidade as refeições, é preservar a humanidade que ele, com sua humildade gestual, não cansa de nos sugerir, por exemplo quando desejou bom almoço à multidão que estava diante dele, em comunhão com ele.A comunhão confirma a nossa humanidade e o papa Francisco sabe disso.
E nesta Semana Santa, eu desejo que a contemplação inesgotável da Santa Ceia ofereça à nossa vivência cristã uma singela e gigantesca resposta ao chamado do Cristo.
Um comentário:
Muito bom Jussara, o Papa está conquistando a todos, e eu adorei o seu texto. Feliz Páscoa. Beijos.
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