Participe !!!

Participe !!!

quarta-feira, 27 de março de 2013

O Papa que ¨sai de si¨ !

Primeira audiência pública do papa que ¨sai de si¨, 

do papa que nos encontrou 

e não teme encantar o mundo! 





¨Viver a Semana Santa seguindo a Jesus quer dizer aprender a sair de nós mesmos, ir ao encontro dos outros, ir à periferia, sermos os primeiros a nos movermos até nossos irmãos, principalmente àqueles que estão mais longe, que estão esquecidos, que necessitam de compreensão, consolo e ajuda¨.  Francisco

O texto de hoje é um improviso de Francisco, durante sua primeira audiência pública. Vale a pena meditar um pouco sobre sua mensagem e o sentido forte que ela assume agora, na Semana Santa !


¨Sair de si¨! Descentrar-se ! São expressões usuais na teologia cristã, porque expressam o jeito de nosso Senhor Jesus Cristo viver !!!

A expressão é forte e de difícil entendimento. 
Como vou sair de mim ??? 
Se saio de mim, não estou mais ¨dono¨ de mim, como se estivesse dormindo ou desmaiado ???

Aí está a beleza da linguagem da fé. Se humanamente é inadmissível a qualquer ser humano ¨sair de si¨, esta expressão que os gregos chamam oxímoro (palavra doida, maluca, que se expressa numa contradição...) é a que melhor dá conta do comportamento que Jesus nos convida a seguir.

Agora, se eu digo que uma pessoa se ¨sente¨ ... se eu digo que uma pessoa pensa que ela é o ¨umbigo do mundo¨ ... todo mundo entende que estou qualificando esta pessoa de egoísta, em outras palavras: auto-centrada, ¨centrada em si¨.

¨Sair de si¨ é a atitude evangélica perfeita ! 

O melhor exemplo que conheço é o da cristã perfeita, Maria, que ainda era uma menina quando o anjo lhe anuncia o desejo de Deus para a sua vida. Sabemos que uma menina de uns 15, 17 anos não entendeu nada da vontade de Deus para ela, naquele momento. 

Mas qual foi a atitude Maria ? Não entendeu, mas disse: Eis-me aqui !!!

Não existe melhor momento para apreendermos o significado de ¨Eis-me aqui¨ do que na contemplação da Paixão, Morte e Ressurreição daquele filho-difícil, do que significou para Deus o olhar sempre presente de Maria.

Aliás, o melhor daquele famoso filme sobre a Paixão, na minha pobre opinião, é a troca de olhares de Maria e seu filho Jesus. É surpreendente que durante todo o percurso da Paixão este filho - que Maria nunca conseguiu entender humanamente - encontre no olhar da mãe,  apoio para portar o madeiro.

São olhares que sustentam. E sustentam porque saem de si e se dão ao Outro, Como o olhar de Maria que doou seu filho ao mundo, seu único filho, filho que era Deus, e que Maria, já nas Bodas de Canã não compreendia, mas avisava que deveríamos observá-lo e obedecê-lo. 

A palavra obedecer é interessante. Não carrega em sua etimologia o sentido de hierarquia, de um que manda e de outro que obedece. Obedecer é OUVIR. E isto o próprio Deus cansou de nos dizer: 

OUVI-O ! Este é meu filho muito amado !

É na escuta ao Senhor que crescemos na fé. Conheço um místico que diz que a fé ¨entra¨ pelos ouvidos (os salmistas sabiam e pediam a Deus que ¨furassem¨ seus ouvidos para que ouvissem melhor a Deus).



Sacrifício e oblação não quisestes, mas abristes, Senhor, meus ouvidos;não pedistes ofertas nem vítimas, holocaustos por nossos pecados. E então eu vos disse: “Eis que venho!” (Sl 40)



¨Sair de si¨ é dizer a Deus, Eis-me aqui ! 
Eis-me aqui para amá-lo e João nos ensinou que quem não ama o irmão, não ama a Deus !

Na penumbra, sem clara visão do que virá, mas na mesma certeza de Maria que, mesmo ¨não tendo ainda chegado a hora de seu filho, crê e recomenda que o ouçamos, do mesmo modo, quando chegou a hora de seu filho, aos pés da cruz, cantar emocionados, 


Sobe a Jerusalém, Virgem oferente sem igual.
Vai apresenta ao Pai, teu Menino: luz que chegou no natal.
E, junto à sua cruz, quando Deus morrer fica de pé.
Sim, ele te salvou, mas o ofereceste por nós com toda fé.
Nós vamos renovar este sacrifício de Jesus:
morte e ressurreição, vida que brotou de sua oferta na cruz.
Mãe, vem nos ensinar a fazer da vida uma oblação.
Culto agradável a Deus é fazer a oferta do próprio coração.


em http://oglobo.globo.com/mundo/vao-periferia-ajudem-aos-esquecidos-diz-papa-francisco-7956779#ixzz2OkgHJOv9 

terça-feira, 26 de março de 2013

Papa Francisco e seus gestos jesuítas


O desejo de escolha do quarto do primeiro papa jesuíta


O pe. Lombardi, SJ, informa que o


¨Papa Francesco, ha commentato ancora il portavoce vaticano, "sperimenta questa convivenza: è una situazione di esperimento, manifesta questo desiderio di continuare a essere presente nella stessa casa che sta abitando dall'inizio del Pontificato. E dove ora sono tornati i sacerdoti e vescovi che vi risiedevano prima, tra i quali c'è anche il cardinale Giovanni Coppa".

O papa-surpresa não quer dormir sozinho, nos quartos e salas a ele destinados pelos séculos e séculos vividos. O papa-surpresa não quer acordar entre quartos e salas que, segundo ele,  comportam 300 pessoas¨. O papa-surpresa sabe o valor da glória e das dores da comunhão. O papa-surpresa não quer ser ex-comungado, no sentido mais simplezinho da palavra, que é o ¨drama de ser alijado da con-vivência  dos que constituem agora a sua comunidade¨.

Pensando assim, o desejo do papa Francisco não me surpreendeu. Ao contrário, deu origem a uma ação de Graças por seu gesto. Isto porque os religiosos vinculados a Congregações, ¨padres, freiras, irmãos¨, dividem a residência onde moram. Na prática, isto implica orar na mesma capela, partilhar a mesa durante as refeições e, no caso que eu conheço um pouco melhor, na Companhia de Jesus, alterman-se na ¨governança¨ da casa.

Ah, cada um tem ¨direito¨ ao seu quarto individual, o que, aos meus olhos, transforma o quarto de um jesuíta num universo totalmente diferente, por exemplo, do meu quarto, onde todo mundo mete a mão na porta e já entra falando o que quer... MÃE ! FILHA ! d. Jussaraaaaaa ! A única vantagem que levo, é ouvir um VÓ delicioso algumas vezes adentrando o meu devassado santuário.

Brinco, mas presto minha reverência ao ¨quarto¨ de um religioso jesuíta.

Fiquei encantada quando um jesuíta me contou: um dia, Pe. Arrupe esteve no meu quarto e autografou a foto (era hábito ter na parede uma foto dele, em sinal de admiração por pessoa tão admirável !). Também eu, autora do ¨Blog do Rahner¨, me emocionei quando outro jesuíta me contou que Rahner esteve no ¨quarto¨ dele ! Isso sem nem considerar a primeira vez que pus um pé no quarto de um jesuíta !!! Oh, Senhor ! Eu me senti pisando ¨solo sagrado¨ !!!

Tentei fazer algo assim, depois da viuvez, com o meu quarto. Na primeira vez que fiz os Exercícios Espirituais de Santo Inácio, esbarrei num problemão que o santo mesmo já tinha alertado: onde rezar. Não se faz exercício físico sem esforço físico e não se faz exercício espiritual sem oração.

Um dia, muito aborrecida com meu fracasso, disse brava e atrevida ao ¨orientador¨ dos EE: o senhor pensa que na minha casa tem uma capela, assim como aqui, na sua casa ? Não consigo silêncio nem um recolhimento efetivo no meio da ¨confusão familiar¨...

E foi aí que levei um tranco ! Sabe o que o jesuíta me disse ? Você, JUSSARA, tem que aprender a construir uma capela dentro da sua cabeça e com o seu coração.

Acho que levei anos para entender o que significava construir uma capela na minha cabeça. E ele me foi relatando sobre as dificuldades deles, os SJs. Tem dia que vc pensa: vou agora prá capela: chega lá, tem um SJ que, justo naquela hora está lá, sozinho, celebrando ... Os exemplos se sucederam e acabei entendendo a reverência que os SJs têm pelo quarto, local onde eles acabam sempre construindo suas capelas mais interiores.

Eu confesso que adoro o jeito de proceder dos SJ, coisa que nem em sonho daria para implantar na minha casa. Um sistema comunitário, com os ônus e os bônus da alternância na direção da rotina da residência de todos.  E o que exerce essa governância, leva o título de Superior da Residência. Na prática, cuida e responde por todos aqueles problemas chatos que ¨ninguém merece¨...

E o encarregado desse pesado ofício (extra), recebe o nome de Superior da Residência, embora a cultura brasileira considere esse tipo de trabalho ¨inferior¨ e toda dona ou dono de casa podem confirmar.

Já vi superior cuidando de ¨um, tudo ...¨ Uma loucura ! Mas todos devem se ¨con-formar¨ com seu estilo gerencial. Todos sabem que o exercício de tal superioridade não é vitalício e todos sabem que a inferioridade das compras, cardápios, dietas, saúde, fora tudo que envolve a gestão de complicações de ordem pessoal, dura um ¨certo¨ tempo. Por isso, o religioso que hoje está numa invejável ¨posição inferior¨, sabe que já, já, a chata da Superioridade da Residência vai despejar-se por sobre a sua vida, ¨de novo¨. Daí a solidariedade de todos com o coitado do Superior da Residência... É um sentimento do tipo: eu sei que sou você amanhã ...

Enfim, de todas as obviedades rotineiras que permeiam a convivência humana, religiosa ou não, o importante aqui é perceber que conviver implica se sujeitar à alternância dos humores alheios !

Para mim, o que sustenta a experiência de vida religiosa é a comunhão ! Para nós, cristãos, a partilha da mesa é a mais forte herança de comunhão que ganhamos de nossos irmãos judeus.

Agora, na semana santa, a contemplação da cena da Última Ceia explode os nossos corações diante das experiências humanas que se ali se passam ... Do discípulo amado, o jovem João, à experiência de Judas. 
Por isso, a comunhão não pode ser afastada do humano.  
A comunhão confirma a nossa humanidade e o papa Francisco sabe disso. 
Acordar, como ele fez hoje,  presidir a celebração, às 7:00, na comunidade que com ele reside em Santa Marta, fazer com esta comunidade as refeições, é preservar a humanidade que ele, com sua humildade gestual, não cansa de nos sugerir, por exemplo quando desejou bom almoço à multidão que estava diante dele, em comunhão com ele.

E nesta Semana Santa, eu desejo que a contemplação inesgotável da Santa Ceia ofereça à nossa vivência cristã uma singela e gigantesca resposta ao chamado do Cristo.

domingo, 17 de março de 2013

O brasão de Francisco, papa da misericórdia !



O Brasão de Francisco, e sua mensagem

O Papa Francisco decidiu manter seu brasão, escolhido na sua consagração episcopal, também marcado pela simplicidade : um escudo azul que ganhou os símbolos pontifícios (mitra posicionada entre chaves de ouro e prata entrecruzadas, unidas por um cordão vermelho). 

No alto, está o emblema da ordem de origem do Papa, a Companhia de Jesus: um sol radiante e flamejante carregado com as letras, em vermelho, IHS, monograma de Cristo. A letra H é coberta por uma cruz em ponta e três pregos em preto.

Abaixo, encontram-se a estrela e a flor de nardo (semelhante ao cacho de uva), que já constavam no brasão do cardeal Bergoglio. 

A estrela, de acordo com a antiga tradição aráldica, simboliza a Virgem Maria, mãe de Cristo; enquanto a flor de nardo indica São José, patrono da Igreja. Na tradição da iconografia hispânica, São José é representado com um ramo de nardo nas mãos. 

Colocando no seu escudo tais imagens, o Papa pretendeu exprimir a própria devoção à Virgem Santíssima e São José.

Em memória ao evento que marcou o início de sua consagração total a Deus, Bergoglio escolheu o lema e o modo de vida “Miserando atque eligeno”. A frase, escrita em latim do Evangelho de Mateus, descreve a atitude de Jesus com um pecador, a quem olhou com sentimentos de amor e escolheu-o, de acordo com informações do site do Vaticano.

O lema é uma homenagem à misericórdia de Deus e é reproduzido na Liturgia das Horas da festa de São Mateus. Ele tem um significado especial na vida e na trajetória espiritual do Papa. Segundo o Vaticano, foi em uma festa de São Mateus, em 1953, que Bergoglio experimentou, aos 17 anos, a presença de Deus em sua vida.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/mundo/anel-do-pescador-de-francisco-sera-de-prata-nao-de-ouro-diz-vaticano-7869427#ixzz2NubkoXlE   © 1996 - 2013.


El escudo del Papa Francisco

sábado, 16 de março de 2013

Rosî Moura, o testemunho cristão de uma apaixonada

Já contei aqui que, para Karl Rahner, a
 melhor palavra para dizer ¨fé¨ em nossos dias é CORAGEM.

Por isso eu trago um artigo escrito para um jornal virtual dos funcionários do Banco Central do Brasil. Este artigo, cujo título é FRANCISCO, foi escrito por Rosimêre Fonseca de Moura.

Rosi, como é conhecida por seus amigos e admiradores é uma mulher de coragem. Tem a coragem de sentir, de agir conforme o seu sentir, que é sempre um sentir amoroso.

Na semana passada, Rosi lançou um delicioso livro de contos, o ALÉM DAS CORTINAS que, desde os primeiros dias consta como um dos 100 mais vendidos da Amazon.com.br !






Tudo isso para dizer aos leitores do Blog que se encantem com o testemunho de fé dessa cristã que aqui dá consistência real ao que professamos no Credo Niceno-constantinopolitano:

Creio na Igreja
UNA, SANTA, CATÓLICA E APOSTÓLICA.



Francisco



Em 13 de março de 2013, enquanto passava pelo coração da Vila Isabel, ouvi dobrarem os sinos da igreja mais próxima. Naquele horário as badaladas só podiam indicar a aparição da fumaça branca na chaminé da Capela Sistina. Liguei o rádio imediatamente.

Há algum tempo (foi logo depois da eleição de Bento XVI), uma colega me provou por a + b, num longo e-mail repleto de citações de normas, que eu não poderia me considerar católica apostólica romana (apesar do batismo, do catecismo, da primeira comunhão, da crisma), já que não frequentava nenhuma paróquia, quase não ia a missas, raramente comungava e descumpria várias das condições estabelecidas para tanto. Vi que ela tinha razão, agradeci e passei a me declarar laica, para todos os fins. 

Mesmo assim, a escolha do novo Líder da Igreja de Roma me interessa muitíssimo. Entrei em casa e fui direto para a TV ligada, acompanhando a cerimônia com atenção reverente. Só um tolo seria desrespeitoso para com a escolha de uma liderança religiosa que congrega mais de um bilhão de seguidores. Só alguém muito ingênuo desconsideraria a importância e a influência da figura Papal no planeta em que vivemos, católicos ou não.

Quando as portas se abriram e o Cardeal-Diácono Tauran anunciou, como escolhido, o Arcebispo de Buenos Aires, fiquei surpresa e contente. Um nome não europeu me pareceu um sinal de boa vontade para com o mundo fora dos limites do velho continente. Uma esperança de maior abertura, de aprofundamento de diálogo, de diluição de fronteiras entre os continuadores do trabalho dos Apóstolos, de um ministério para urbi et orbi. 

Então veio o anúncio do nome do novo Pontífice: Francisco. Fiquei perplexa. Torci por esse nome, por muitos anos. Embora eu ache um tanto feio haver torcidas em torno de qualquer aspecto da eleição de um Papa, embora tenha passado (durou menos de um segundo!) por minha cabeça a perguntinha infame “argentino?” durante a anunciação (perdoem hermanos, são puerilidades, Deus há de me perdoar), tenho de admitir meu silencioso desejo de ver um Papa assim chamado. 

Fiquei profundamente emocionada. Apaixonada pela vocação inovadora e pela consistência ética da Ordem Franciscana, entrevi na opção do Cardeal Jorge Mario Bergoglio, uma menção à possibilidade de uma prática ainda mais pastoral. De uma Igreja com tendência mais acentuadamente inclusiva. Uma Igreja ainda mais voltada ao socorro daqueles irmãos que, vitimados pela miséria ou pelo abandono, pela ignorância, pela violência ou pela doença, ficam à mercê do desespero e às portas da perdição. 

Uma Igreja capaz de resolver efetivamente seus problemas internos, ainda que ao preço de algumas mudanças profundas. Uma Igreja que dê maior prioridade à prática da caridade do que à simples repetição de seus cânones. Uma Igreja mais católica, menos romana e ainda mais apostólica.

O Sumo Pontífice vem da Ordem Jesuíta. Obviamente, o homenageado pode ser São Francisco Xavier. Muitos italianos falavam em São Francisco de Pádua. Entretanto, ao ver a figura altiva e suave de Sua Santidade, não pude deixar de pensar no doce revolucionário criador e líder dos Franciscanos. E creio que os quatro Franciscos em foco espelham esses propósitos de manifestação da humildade na expansão da fraternidade.

Por fim, quando o novo Papa pediu à multidão que orasse por ele, no momento de sua primeira fala, e curvou-se para também orar e receber a emanação da prece coletiva, num inequívoco gesto de inclusão de seus fiéis em seu destino, minha emoção foi mais forte. No fundo da mente, uma canção para crianças, antiga, soava em surdina: “Fazendo festa no menininho, contando histórias pros passarinhos... lá vai São Francisco pelo caminho”.

Há muito não me emocionava tanto com a apresentação de um novo Bispo de Roma. 

Que a luz do Cristo o acompanhe por toda a sua jornada. Abençoado seja o Cardeal Bergoglio pela escolha do nome Francisco. Louvado seja o Santo de Assis (e também os outros). Bendito seja o Papa Francisco em seu pontificado. 


Salve Jorge!



domingo, 10 de março de 2013

RAhner: a Igreja do futuro é objeto de ¨esperança contra toda esperança¨ !

Em 1972, Rahner lança um texto merecedor da nossa atenção nos dias de hoje.

É um dos poucos traduzidos em português, com o título: Estruturas em mudança: tarefa e perspectivas para a Igreja (1).

O ¨pano de fundo¨ de Rahner à época é o Sínodo do Episcopado alemão, embora os seus comentários expressem, também, a realidade que o Conclave reunido a partir da próxima terça-feira terá diante de si. 

Além da diferença de situação, há uma distância temporal considerável ! Quase 40 anos. O que torna válido para hoje o livro de Rahner é o encantador ¨mistério¨ que chamamos Igreja.

Assim, traduzo o Prefácio (da edição em inglês), em que Rahner diz: 

¨... Ofereço o livro aos leitores sem saber como será avaliado. Alguns podem considerá-lo muito ¨progressista¨ e (eclesialemente) tendente à ¨esquerda¨, porém, outros leitores podem considerá-lo, no todo, muito conservador.

Muitos dirão que eu nada sei do futuro da Igreja, embora esteja falando sobre ele. Esta crítica está correta, porque não sou profeta e a Igreja do futuro é, em última análise, objeto de ´esperança contra toda esperança´ e não um caso de futurologia.

Outros dirão que a seleção de temas é arbitrária ... Como posso negar esta arbitrariedade? Quem me critique quanto a isso, deve me permitir retornar a pergunta e indagar como se pode pode chegar a uma seleção de tópicos e o porquê de esta seleção estar absolutamente correta.  

Estou interessadíssimo nessa resposta...

É claro que os tópicos estão restritos às mais urgentes questões de nossa situação na Alemanha. É claro que estou ciente de que os problemas não vão ser simplesmente aclarados neste livro; eles necessitam ser considerados, também, por muitos outros teólogos, Cristãos e pela hierarquia da Igreja. 

Somente assim a Igreja pode desenvolver, lentamente, mas com clareza, uma consciência coletiva que possa guiar a sua ação no futuro, de modo a que as decisões individuais possam ser apropriadamente harmonizadas a um ponto tal que, a partir de então, nós não mais ¨levamos¨ a Igreja como simplesmente estavamos ´levando´, uma vez que a visão de futuro e o planejamento são possíveis para o Cristianismo e, inclusive, exigidos dele.¨

  
(1) 1972 – KARL RAHNER. Estruturas em mudança: tarefa e perspectivas para a Igreja. Petrópolis: Vozes, 1976. Em inglês, The shape of church to come. London: [s.n.], 1973. New York: Crossroad, 1974. Em espanhol, Cambio estructural de La Iglesia. Madrid: [s.n.], 1974.  No original, Stuktuwandel der Kirche als Aufgabe und Chance. Freiburg: [s.n.],  1972. 

sábado, 9 de março de 2013

RAhner & RAtzinger: a fé na Igreja do futuro



Rahner e Ratzinger: dois peritos, dois expoentes do Concílio Vaticano II.

Hoje deixo falar a genialidade de ambos que travaram uma verdadeira batalha pela efetiva vivência do conhecimento legado pelo Concílio.

Decorridos 50 anos, sabemos que há momentos em que a bibliografia teológica de Rahner e a biografia de Ratzinger se ¨encontram¨, como também há momentos em que se ¨desencontram¨.

Aqui interessa deixar transparecer a Boa Nova, o real pano de fundo de suas biografias e de suas bibliografias: a fé no Jesus de Nazaré, no que foi ressuscitado pelo Pai e vive, por seu Espírito, entre nós. 

Aí está o futuro, nesta síntese que aponta o nosso ¨futuro absoluto¨, que é Deus. E somente assim ganha sentido a  bela sentença de Rahner: 


¨O Cristianismo pode ser compreendido e proclamado como 
a religião do futuro absoluto¨! (3) 

Trago dois pequenos textos. 

Um de Ratzinger, de 1969. O outro de Rahner, de 1965. Ambos sobre o tema do futuro da Igreja e, assim, do nosso futuro cristão. 

Ratzinger, sobre a crise da Igreja, afirma que 

¨... surgirá uma Igreja que ...tornar-se-á pequena e deverá recomeçar mais ou menos dos inícios ...
Recomeçará de pequenos grupos, de movimentos e de uma minoria que recolocará a fé no centro da experiência... 
Será uma Igreja mais espiritual, que não se arrogará uma função política... 
Então, as pessoas verão aquele pequeno rebanho de crentes como algo de totalmente novo: descobri-lo-ão como uma esperança para si mesmas, como a resposta que tinham sempre procurado em segredo” (1).

Rahner, sobre o cristão do futuro, afirma que  


¨a Igreja passará a depender em tudo da fé e do santo poder do coração¨, já que ela será ¨um pequeno rebanho de irmãos da mesma fé, 
da mesma esperança e 

do mesmo amor 
… 
 obediente e agradecida, aceitando sua própria época como a que é designada para ela por seu Senhor e por seu Espírito, e não meramente que é forçada a ela pelo mundo perverso¨(2). 

Jussara Linhares



(1) 1969 - Joseph Ratzinger, cf. post de Dom Henrique Soares da Costa, bispo auxiliar de Aracaju (SE), em seu perfil do FB, no último dia 5.
(2) 1965 Karl Rahner, O Cristão do Futuro: São Paulo: Cristã novo século, 2004. Em inglês, Christian of the Future: U.S. Catholic (Chicago/Illinois) XXXI (1965) Nr. 7, 13-18. Também em Pax Romana Journal 6 (1965) 3-7. Em francês, como L’avenir chrétien de l’homme: Informations catholiques internacionales Nr. 124 (vom 15.06.65) 3-4, 26-28. No original, Christliche Zukunft des Menschen : Orientierung 29 (1965) Nr. 9 (vom 15.05.65) 107-110. Também em Christophorus (München) 10 (1965) Nr. 3, 16-22.
(3) Karl Rahner, Christianity and the Future. The future of Man and Christianity, p. 63.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Mario de França Miranda dá entrevista ao pe. Omar

Recomendo um tempinho para assistir este testemunho privilegiado do momento vivido pela Igreja, como entender a liberdade cristã diante do gesto de Bento XVI e a experiência dos jovens com a JMJ Rio 2013, que se aproxima.

O gesto de renúncia e a liberdade de consciência do Papa


Ainda sobre o gesto de Bento XVI



El impacto de la noticia de la renuncia del Papa nos puede hacer pasar por alto la alta calidad humana de los términos en que esta ha sido hecha. A continuación, sin ánimo de exhaustividad, detallo algunos aspectos de la decisión de Benedicto XVI.
Por Jorge Costadoat

Una decisión tomada con conciencia

El Papa decide renunciar porque Dios le ha pedido que renuncie. No parece que se lo haya dicho tal cual, sino que Benedicto lo ha oído en esa concavidad sagrada que todo ser humano tiene llamada conciencia en la cual solo caben dos: el Creador y su creatura. El hombre, en su máxima expresión, solo rinde cuentas a su conciencia. Esta no es un espejo de los propios deseos e intereses. Sino que, en la escucha del silencio absoluto, oye a Dios y no puede dejar de hacerle caso sin frustrar la propia razón de ser. La decisión del Papa no puede ser más libre, porque es la decisión de Dios.
¿No es esta una contradicción? Para nada. En la actuación del Papa se replica el misterio de la Encarnación. En Cristo el hombre nunca ha sido más hombre, porque en él Dios nunca ha sido más Amor ("Dios es amor", 1 Jn 4, 8). En esta renuncia al ministerio de Pedro, la voluntad de Dios y la libertad de Benedicto coinciden. El Papa le ha consultado reiteradas veces. Según parece, Dios le ha confirmado su decisión; decisión que será tan suya como del mismo Benedicto. En este sentido el Papa no puede estar más lejos del "individualismo" contemporáneo. Su decisión es sumamente libre de todos los condicionamientos a su voluntad; de todo tipo de apegos al poder o a la fama; de querer, por ejemplo, que el futuro de la Iglesia pase por su personalidad. Si en la intimidad de la oración Dios le hubiera dicho "sigue, continúa", probablemente él habría proseguido en el cargo. El mensaje trasmitido a los cardenales trasunta una disponibilidad total a la voluntad de Dios, así como la realización de la libertad de Benedicto.
Llama la atención en el mensaje que la decisión es libre y en conciencia. Benedicto es insistente. Quiere que quede muy en claro. Nadie lo presiona. Nada. Ni los otros ni sus propias pulsiones: miedos, intereses creados, etc. Repite: "Después de haber examinado reiteradamente mi conciencia..."; "he llegado a la certeza..."; "soy muy conciente de..."; "siendo muy conciente de la seriedad..."; "con plena libertad...". Conclusión: "renuncio".
¿Es acaso el recurso a la conciencia un privilegio papal? Por supuesto que no. El Papa, probablemente sin quererlo directamente, está dando un ejemplo de cristianismo. Todo cristiano, en las circunstancias cruciales de la vida, es decir, cuando no hay recetas para seguir adelante; cuando las leyes morales resultan estrechas e inhumanas; cuando da vértigo equivocarse, debe seguir su conciencia. Este es su privilegio y su deber. Su honor. Su dignidad.

Rendición de cuentas a una institucionalidad

Sin perjuicio de lo anterior, Benedicto XVI sabe perfectamente que su decisión debe ser comunicada y encausada en una institucionalidad que él no ha inventado para llegar al poder ni para conservarlo. Su decisión, tomada en conciencia, es comunicada a quienes se harán cargo de ella porque ellos, bajo otro respecto, están por encima de él. Los cardenales lo han elegido. Ellos tendrán que elegir otro Papa. Los cardenales no le pueden impedir que renuncie. Ellos también están obligados a acatar la voluntad de Dios que en estos momentos pasa por la conciencia de Benedicto. Pero no podrían permitir que Benedicto los sobrepase autoritariamente con esta y otras decisiones. Ellos no son "hotelería" vaticana dispuesta a escenificar las "performances" del Pontífice. Ambos, ellos y el Papa, cada cual en lo suyo, nos representan a todos los católicos. Ambos están al servicio de una Iglesia cuya institucionalidad debiera ser intolerante con los abusos del poder. En este caso, Benedicto humildemente, y a la vez con enorme dignidad, rinde cuenta de su acto a quienes él debe respecto y sometimiento.
El Papa Benedicto es consciente de que su cargo es un servicio a una institución que no se identifica con su persona, sino que es el Cuerpo de Cristo. La Iglesia toda es la esposa de un Cristo que se entregó por entero al advenimiento del Reino de Dios. El Papa y los cardenales son servidores del Siervo de Dios. Es así que Benedicto agradece a los cardenales el amor y la ayuda. Pide perdón, ¿a Dios o a ellos? ¿Ambos? Su gobierno es un "ministerio". Su vida es un "ministerio". La prueba de la sinceridad de sus palabras es que terminado el cargo no dejará de servir. Él no ha servido para gobernar. Él ha gobernado para servir. Su intención última es esta. Así lo dice: "Por lo que a mi respecta, también en el futuro, quisiera servir de todo corazón a la Santa Iglesia de Dios con una vida dedicada a la plegaria".
Por otra parte, como otra prueba de la rendición de cuentas del Papa, es la argumentación misma de su decisión. Su decisión no es un capricho. El se ve obligado a fundamentar cuidadosamente la razonabilidad de su acto. Benedicto explica con suma seriedad por qué el buen gobierno de la Iglesia hoy requiere de un cambio al más alto nivel.
¿Ha querido el Papa darnos un ejemplo de ejercicio cristiano del poder? Tal vez sí. Pero seguramente esta no es la intención primera. Estamos ante un ejercicio del poder que de hecho, talvez sin quererlo, trasunta una comprensión cristiana de las instituciones humanas. Nadie puede, en cristiano, pretender un poder absoluto. El poder es servicio del que se da cuenta a Dios y a los hombres. Solo en estos términos quien detente el poder cuenta con autoridad para ejercerlo. Quien no, se expone al desacato y a la rebelión.

Gobierno espiritual

En la decisión de Benedicto XVI hay una sabia relación práctica de fe y razón. El gobernante no se deja seducir por la tentación carismática. El Papa sabe, por cierto, que ha sido dotado del Espíritu a través de una consagración para un cargo de una institución que no puede ser juzgada por meros criterios mundanos. Pero, si las instituciones meramente mundanas a estas alturas de la historia impiden que una autoridad se eternice en el cargo con perjuicio del servicio que debe prestar, la Iglesia, precisamente porque está obligada a articular fe y razón (Concilio Vaticano I), debe operar con sensatez. Benedicto, enfermo y sin fuerzas, actúa con la razonabilidad de un cristiano que cree que la fe en el Creador le exige actuar conforme a razón que Él le ha dado para usarla sin miedo a equivocarse.
¿Constituye su renuncia una abdicación de la cruz? Para Juan Pablo II lo habría sido. No nos toca juzgarlo. Si en conciencia, como pensamos, Dios le ha pedido algo así como: "sigue hasta el final porque esta será la manera en la cual tú debes participar en el misterio pascual", bien ha hecho en llegar hasta el final como llegó. Desecho. Sin decidir, sin gobernar. Quedando el mando de la Iglesia entregado a otras personas. Juan Pablo II pudo haberse equivocado en su discernimiento. Los papas también se equivocan. Pero tampoco podemos excluir que Dios, que supera con mucho nuestros planes, le haya pedido no renunciar.
El caso es que Benedicto, nos consta, sí ha querido obedecer a su conciencia y en ella Dios le ha pedido lo contrario. Probablemente le ha dicho: "para gobernar la Iglesia se necesitan actos y palabras, oración y sufrimiento. Tú has sufrido. Seguirás sufriendo. Seguirás sufriendo por la Iglesia, no solo por el deterioro de tu salud. No te relevo de continuar sirviendo a la Iglesia. Retírate, pero sigue rezando, sufriendo, pensando...Hazlo hasta que puedas. Pero la Iglesia necesita ser gobernada con la cruz y la razón. No solo con la cruz. En este momento histórico, en tú caso, que irás perdiendo poco a poco la mente, creo que es razonable que haya otro Papa. Renuncia".
No podemos juzgar interioridades. Pero, a mi parecer, en este punto, Benedicto XVI ha sido superior a Juan Pablo II. Juan Pablo II identificó su cruz con la cruz de Cristo, dejando entregada la Iglesia al desorden, a los pillos y a las luchas por el poder; en suma, a la irracionalidad. Benedicto XVI, por el contrario, ha visto que la misión de la Iglesia no es otra que la misión de Cristo, el Siervo que ha proclamado la llegada de un reino cuya razonabilidad es la del amor, y no la del sacrificio por el sacrificio. El amor, que suele ser arduo, que no opera más que a través del discernimiento y el control de las fuerzas. El Papa Benedicto, talvez sin quererlo, simplemente practicándolo, nos ha recordado que el amor y la razón van de la mano.
Esta es mi opinión. Personalmente me inclino por Benedicto. Me es convincente su manera de tomar decisiones y la decisión tomada. Sin embargo, me veo obligado a ir aun más lejos. Si, como Benedicto, le doy suma importancia al respeto de la conciencia de las personas, no puedo excluir que otras personas, con otros esquemas mentales, con otras culturas y en otras circunstancias, lleguen a decisiones diferentes. Lo decía más arriba. Nadie puede impedir que Dios pida acciones distintas a personas distintas. A decir verdad, creo las respuestas al querer de Dios han de ser siempre únicas. Supongo que, mientras más difíciles, serán más originales, porque la originalidad del cristianismo es expresión de la originalidad de la relación que cada creatura tiene con su Creador.
En suma, celebro la decisión de Benedicto y el modo suyo de tomar decisiones en conciencia. Creo que el Pueblo de Dios anhela que la Iglesia establezca o sugiera los vínculos entre el amor y la razón. Por todas partes detecto el deseo de una Iglesia acogedora y acompañante; que no imponga, sino que ayude a las personas a decidir sobre sus vidas.
Por lo mismo, me parece sumamente rica la comparación entre los dos papas. ¿Por qué excluir que ambos hayan actuado bien? Independientemente de los resultados efectivos, toda persona que actúa con libertad responsable, esto es, con una libertad que "responde" a la propia conciencia, actúa correctamente
Este campo de posibilidades augura un hermoso futuro para los católicos. Celebro, una vez más, la decisión de Benedicto. El no se dejó llevar por un precedente de 600 años. Lo rompió. Nos sorprendió a todos. Los actos verdaderamente libres son sorprendentes. Aplaudo su libertad y su seriedad. La Iglesia espera de sus pastores, en este momento de profunda crisis, gestos y decisiones de gran responsabilidad.
Publicada hoje em http://teologia.uc.cl/index.php?option=com_content&view=article&id=512%3Arenuncia-de-benedicto-xvi-una-decision-ejemplar&catid=84%3Aopinion

segunda-feira, 4 de março de 2013

RAhner & RAtzinger: um diálogo de fé



Este Blog nasceu sob a inspiração da obra teológica de Karl Rahner (1904-1984).


Karl Rahner e Joseph Ratzinger, como é costume dizer-se dos ¨alemães¨, são belos exemplos em que a vida e a obra se confundem.


Se Rahner é considerado um ¨autor difícil¨, até por sua bibliografia gigantesca, Ratzinger foi considerado tímido, de difícil acesso, o ¨Rottweiler de Deus¨, por sua biografia na hierarquia da Igreja, até se tornar Bento XVI. A teologia de ambos carrega a influência de dois grandes místicos da Igreja Católica: santo Inácio de Loyola (1491-1556) e santo Agostinho (354-430).

No dia de hoje, Roma reúne cardeais de toda a Igreja para dar início às solenidades que culminarão com a declaração de que Habemus papam.

O curioso é que os nossos corações se dividem diante da expectativa do novo e se curvam, juntos, diante do desejo do ¨papa emérito¨, aquele que não se consegue mais identificar com o ¨Rottweiler de Deus¨, mas nos conquistou em definitivo com a lição de humildade do peregrino que surpreendeu o planeta, gerando uma tsunami de solidariedade ao seu gesto humano.

Por isso, vivemos a oportunidade inesperada de refletir sobre a Igreja de nosso Senhor Jesus Cristo e, nesse sentido, o gesto de renúncia do Papa é um legado, não do ¨Rottweiler de Deus¨, mas do ocupante da cadeira de ¨Pedro¨, que tão lindamente afirmou sobre a 1 Pe 1, 3-5: 

¨É Pedro que fala! ...  É Pedro que fala à Igreja de todos os tempos¨.



3                Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo.
                  Em sua grande misericórdia,
                  pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos,
                  ele nos fez nascer de novo, para uma esperança viva,
4                para uma herança incorruptível, que não estraga,
                  que não se mancha nem murcha,
                  e que é reservada para vós nos céus.
5                Graças à fé, e pelo poder de Deus,
                  vós fostes guardados para a salvação
                  que deve manifestar-se nos últimos tempos.


Estamos diante de um gesto que se transforma, dia após dia, em um marco da história humana depois de Cristo. Um gesto que sacode a consciência cristã, que traz o que estava adormecido, sujeito a frivolidades, a um crescente sentimento anticlerical, ou conformista, ou até reformista, mas que foi capaz de despertar a essência da missão cristã, que desafinava tímida diante do mundo secularizado.

Nesse sentido, se ainda é cedo para conclusões, se nos falta o distanciamento necessário à observação dos desdobramentos da renúncia, já é hora de apontar o detonador desta reviravolta: o susto.

Não foi um sustinho qualquer, não é uma notícia qualquer, porque nossa já vida é ¨feita¨ de sustinhos diários, recheados de alegrias ou de tristezas. Foi um solavanco, como o de um avião que despenca num ¨vácuo¨, num susto que nos põe imediatamente alertas, não por mais um noticiário bombástico,  mas pela volta à cena de um tema que sequer era mais ¨assunto¨, mas que repôs na agenda dos cristãos conceitos de conduta pessoal e espiritual que nortearam a liberdade do gesto do ¨servo dos servos¨.

Nesse sentido, a renúncia repercutiu não apenas entre os mais de um bilhão de católicos, mas também alcançou um expressivo percentual da humanidade, adormecido pela indiferença religiosa.

Por isso, o Blog do Rahner, em face da renúncia de Bento XVI, trouxe a opinião de alguns pensadores, com diferentes visões de mundo, e que podem nos ajudar a refletir sobre os acontecimentos. 

Mario de França Miranda SJ e Maria Clara Bingemer, ambos teólogos e professores da PUC-Rio, são reconhecidos pela qualidade de sua produção na academia teológica nacional e internacional, bem assim como pela expertise na teologia de Joseph Ratzinger. 

Mário França é jesuíta e trabalhou por mais de uma década com o cardeal Ratzinger na conceituada Comissão Teológica Internacional, um dos redatores do Documento de Aparecida, além de ser uma referência no que se produz de melhor na teologia acadêmica e pastoral, hoje coordena a Cátedra Joseph Ratzinger (Puc-Rio e Arquidiocese do RJ). 

Maria Clara é incansável autora e batalhadora teológica de renome internacional e acaba de nos presentear com a ¨Apresentação¨ do terceiro e último volume da trilogia de Ratzinger, Jesus de Nazaré. 

Busquei, também, pensadores como Walter Kasper, cardeal que participará do Conclave previsto para este mês, assim como dois jornalistas cariocas leigos: Helena Celestino, de O Globo, e Arnaldo Jabor, poeta, crítico e cineasta.

A divulgação das opiniões de pensadores tão diferentes obedece à identidade da autora do Blog, que  professa, o Credo niceno-constantinopolitano, no que afirmamos crer na Igreja de nosso Senhor Jesus Cristo como unam, sanctam, cathólicam et apostólicam Ecclésiam.

Não se pode admitir uma Igreja una, santa, católica e apostólica que não se apoie na pluralidade. Somos um (em Cristo), mas não somos uni-formes. Somos diferentes e havemos de buscar a nossa própria unidade, a nossa própria santidade e a nossa própria universalidade de peregrinos na escuta, no respeito ao outro, ao diferente de nós, mas com gestos da própria liberdade, seguindo a herança apostólica que, por quase dois milênios, nos leva ao Ressuscitado.

Não se trata de julgar, não se trata de criticar, mas de silenciar e considerar a afirmação forte de Mario França, de que ¨o sagrado também é construído através de uma linguagem e de práticas¨.

Há muito o que aprender com a linguagem e a prática legada a nós por Ratzinger e Rahner que, em suas diferenças teológicas, souberam construir o sagrado por meio de suas biografias que se confundiram com suas bibliografias.

Oremos !



1) No dia 8 de fevereiro de 2013, três dias antes do anúncio de sua renúncia, Bento XVI preside uma celebração com todos os seminaristas de Roma, em que ele medita sobre a Primeira Carta de São Pedro (1, 3-5):

Jussara Linhares

domingo, 3 de março de 2013

Helena Celestino, ¨em busca do tempo perdido¨



Procura-se Papa entre 60 e 70 anos, boa saúde, fluente em várias línguas, com capacidade de liderança e articulação política, sólida formação humanista e teológica, cabeça aberta, comunicativo, tolerante e com muito amor no coração. Dá-se preferência a não europeus. Se a ala progressista da Igreja vencer o duelo com a força conservadora da Cúria, este será o perfil do cardeal eleito para substituir Bento XVI, que se recolheu após uma cerimônia de adeus coreografada com requintes do cinemão de Hollywood.
“Está na hora de uma revolução no Vaticano, algo similar à Primavera Árabe que sacudiu uma série de regimes autoritários” , grita Hans Küng, o grande intelectual católico, rival de Joseph Ratzinger desde os anos 60, em artigo no “International Herald Tribune”.

Mais que ninguém, o catedrático emérito de Teologia Ecumênica da Universidade de Tübing sabe que os mais de dois mil anos da Igreja não são comparáveis aos 200 anos de reinado na Arábia Saudita ou às décadas de ditadura na Tunísia e no Egito. Mas o papado - diz - nem sempre foi uma monarquia absolutista como atualmente e, com veemência, defende uma união dos cardeais mais corajosos para exigir a eleição de um Papa aberto à modernidade, um defensor da liberdade e dos direitos humanos dentro da Igreja.

O diagnóstico e a receita parecem certeiros para os males da hierarquia católica. Mas dá para o Vaticano se reinventar? Küng, aparentemente, é o único a desafinar o coro dos teólogos, quase unânimes em alertar que as reformas da Igreja - se acontecerem - serão muito lentas. A maioria acha que progressistas e conservadores, ao enfrentarem as questões polêmicas, praticamente só mudarão o tom, farão condenações explícitas ou serão evasivos ao tratarem de casamento de padres, ordenação de mulheres, união gay, contraceptivos, divórcio e o resto da longa lista de comportamentos há muito integrados à vida cotidiana e condenados pelos hierarcas. “Ninguém deve amordaçar os cardeais como se fez em 2005 para que se ativessem às diretrizes”, defende Küng.

Tudo indica que estas questões morais nem entrarão em discussão nas reuniões dos cardeais que começam amanhã, mas estão na cabeça de católicos e não católicos. Talvez figure na pauta a liberdade de expressão, quesito em que a Igreja parou na Idade Média e sua intransigência levou à expulsão de quadros qualificados - como o brasileiro Leonardo Boff. Em pleno século XXI, padres ainda são submetidos ao “silêncio obsequioso”, ou seja, ficam obrigados a calar a boca quando têm opinião divergente da linha oficial ou a se retratar de qualquer interpretação mais independente do catolicismo. Na época de Paulo VI, o cardeal Solano, então chefe de estado do Vaticano, sem pudor, afirmou que não queria bispos inteligentes, queria bispos obedientes. Otimistas, no entanto, acham que um caminho pode se abrir para um Papa progressista, já que o impossível não para de acontecer na Santa Sé.

“A eleição de um não europeu seria uma mensagem de abertura”, aposta a teóloga brasileira Jussara Linhares. Está mais do que na hora. Nos 17 dias de despedida de Bento XVI, com revelações incessantes sobre os escândalos e mazelas da Cúria, a narrativa sobre o Vaticano ficou parecida com alguns dos piores momentos de Brasília: telefones grampeados, brigas de poder, corrupção, vazamento de documentos, campanhas de difamação - sem falar nos crimes sexuais mais em voga lá do que aqui.
“É estranho: estão em ação o Papa Emérito, o Papa a ser escolhido e o Papa provisório, o polêmico Bertone”, diz J. D. Vital, autor de “Como se faz um bispo”, da Record.

A autoridade máxima da transição entre os dois papas é Tarcísio Bertone, atual camerlengo e secretário de estado do Vaticano nos anos Bento XVI. Ele é um personagem constante do Vatileaks, as cartas secretas do Papa roubadas por seu mordomo. A parte mais leve destes documentos foi publicada em “Sua Santidade”, um livro do jornalista italiano Gianluigi Nuzzi, com histórias nada edificantes sobre os bastidores do poder, algumas acobertadas por Bertone. Por exemplo: depois de criticar o então primeiro-ministro Silvio Berlusconi, o diretor do jornal católico “Avenire”, Dino Boffo, vira alvo de uma campanha de difamação em que é acusado de abuso e assédio sexuais. Ao apurar quem está por trás das denúncias, chega ao diretor do “L’Osservatore Romano”, supostamente agindo com o apoio de Bertone. Numa carta ao Papa, acusa os dois e, um ano depois, volta ao cargo, sem nem pedido de desculpas. Nada menos cristão.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/mundo/em-busca-do-tempo-perdido-7727201#ixzz2MViMxgph
© 1996 - 2013. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização.