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terça-feira, 31 de janeiro de 2012

a História não é um mero teatro no qual Deus se coloca no palco onde as suas criaturas vão desempenhar papéis previamente determinados. Diferentemente, o homem é co-autor deste drama que é a um só tempo divino e humano e que tem seu desenrolar na história

... continuando ...

Vamos falar na liberdade do Pai, a liberdade absoluta Daquele que se manifesta como uma ¨pessoa¨ que quer se relacionar com o homem. Este relacionamento se dá num ¨diálogo¨ histórico.

Quando digo que nos relacionamos com Deus num diálogo, quero dizer que Deus não dita regras ao homem, ou seja, não nos impõe a Sua liberdade absoluta. Dito de modo bem simples: Deus respeita a nossa liberdade de aceitá-lo, ou de rejeitá-lo.

É na vida do homem que se dá esse diálogo histórico, por meio do qual o Pai convida a sua criatura pessoal a ser  parceira da criação, fazendo uso da liberdade que os cristãos dizemos ser contingente. Isto é acatar o convite de Deus Pai e fazr uso da liberdade, que em nós é marcada pela finitude e pela condição de criaturidade do homem (tenho sede, tenho frio, tenho necessidades afetivas, necessito conhecer cada vez mais, quero crescer...).

Não posso resumir aqui tudo que a inteligência humana produziu, em quase dois milênios, sobre os atributos de Deus. Quero, apenas, apontar a própria realidade de Deus que, misteriosamente, nos atrai para Ele (é o que dizemos, vim de Deus, volto para Deus). 
Essa atração permite que o homem, passageiro na história, compreenda Deus como quem somente revela a Sua liberdade na experiência de amar.
É muito importante perceber o que Deus deseja. Sim, e isto é muito bacana: Deus tem desejo. E o desejo de Deus é percebido num agir amoroso em nosso espaço e em nosso tempo. 

Mas agora, atenção ao que vou dizer: 

o agir de Deus se constitui em manifestações históricas e concretas, e isto somente pode ser corretamente compreendido, como Rahner recorda, com a expressão de Tomás de Aquino, ao afirmar que Deus age através de causas segundas. 

Se não compreendermos exatamente o que Tomás ensinou, vamos cair numa imagem de Deus deturpada por nossa experiência: vamos incidir num equívoco comum, como naquele exemplo clássico de dois vizinhos: um, pede a Deus que chova para fazer crescer a sua lavoura; e o outro, pede a Deus que não chova, para que a festa de casamento de sua filha possa ser no jardim. O querer de Deus não é fazer chover para um e fazer não chover para o vizinho. Nem Deus privilegia um, em detrimento dos outros. Lembremos do Evangelho: Deus faz chover sobre todos: justos e injustos !!! E se é assim, vamos entender como é que se dá o AGIR de Deus na história, com Rahner, que toma a frase de Santo Tomás e diz:

“Deus opera o mundo e não propriamente opera no mundo, ele sustenta a cadeia das causalidades, mas não por sua atividade. Deus não se insere nessa cadeia das causas como um elo, como se fosse uma causa entre as outras”. 

Dito de outro modo,

A própria cadeia como todo, ou seja, o mundo no inter-relacionamento de suas partes e não somente em sua unidade abstrata e formal [...], constitui a auto-revelação do seu fundamento. 
E este fundamento mesmo não se pode encontrar como tal imediatamente nessa totalidade. Pois que o fundamento não aparece no seio do que é fundado, se ele é realmente o fundamento radical e, portanto, divino.
Deus Pai - que os Testamentos confessam Criador do mundo - apresenta a sua criação como obra de seu querer que, por sua absoluta liberdade, quis criar

Deus expressa o seu agir em uma criação contínua, fruto de uma liberdade que é como “o fundamento que não aparece no seio do que é fundado”. E não aparece porque é o misterioso fundamento da relação amorosa que Deus, o Mistério que Rahner chama Santo, quis estabelecer com a sua criatura.

Voltando ao início da meditação de hoje, é bonito perceber que a ação de Deus no curso na história da salvação não se resume a um monólogo que Deus conduza por si só. 

Ao contrário, é uma relação que implica “um diálogo longo e dramático entre Deus e a sua criatura, pelo qual Deus confere ao homem o poder de dar uma genuína resposta à sua própria Palavra, valendo-se do dom de sua liberdade que, ao longo de nossa existência humana, é dom que incessantemente nos abastece”. 

Por isso, na boa expressão de Rahner,

a História não é um mero teatro no qual Deus se coloca no palco onde as suas criaturas vão desempenhar papéis previamente determinados. Diferentemente, o homem é co-autor deste drama que é a um só tempo divino e humano e que tem seu desenrolar na história.



Decorre como lição ao cristão que a História tem uma seriedade real, que não pode ser relativizada pela ideia de que tudo brota da vontade de Deus, a quem nada é capaz de resistir. 

O cristão sabe que o poder de dar uma real resposta a Deus estará sempre condicionado à última palavra, que é sempre a de Deus, porque o homem não tem poder para sobrepor-se ao último agir de Deus que é amar criando.


Cf. TNT 111.


Olha a autoridade de quem tudo sabe sobre a Liberdade do Pai !!!


Quem sabe, sabe :


Com d. Helder, temos um belo exemplo de acatamento da nossa relação com o Pai, na liberdade !

A do Pai, absoluta;
A nossa, contingente, ou seja, limitada à nossa situação e às nossas necessidades.

Lembrando-nos, sempre, daquela imagem da criança que nem tudo alcança, mas que sabe que o Pai alcança por ela. Por isso a criança confia no Pai.

¨Dá liberdade ao Pai, para que Ele mesmo conduza a trama dos teus dias¨.

domingo, 29 de janeiro de 2012

LIBERDADE, LIBERDADE, ABRE AS ASAS SOBRE NÓS / DAS LUTAS, NA TEMPESTADE / DÁ QUE OUÇAMOS TUA VOZ

Quando eu ouço este hino, penso na minha, na nossa liberdade de cantar a glória da esperança de um novo porvir.

Pode parecer piegas, mas não é, e nem foram piegas os autores deste hino tão bonito, música de Leopoldo Miguez (1867-1902) e letra de Medeiros e Albuquerque (1867-1934).

Não pode ser piegas uma República que nasce cantando 
¨nem cremos que escravos outrora tenha havido em tão nobre país. Hoje o rubro lampejo da aurora, acha irmãos, não tiranos hostis¨.

E mais, construímos a nossa liberdade individual com esta mesma responsabilidade por um mundo melhor, do jeitinho que as nossas professoras primeiras nos ensinaram a cantar: 
¨Somos todos iguais, ao futuro saberemos unidos levar, nosso augusto estandarte, que puro, brilha avante, da Pátria no altar.

Antes que venham a Copa, as Olimpíadas e etc. e tal., que a gente se lembre deste hino escondido, que canta a liberdade que nós plantamos, igualzinha a que Deus nos deu para usarmos e mudarmos para melhor as nossas vidas.

Hino da Proclamação da República

Seja um pálio de luz desdobrado,
Sob a larga amplidão destes céus
Este canto rebel que o passado
Vem remir dos mais torpes labéus.

Seja um hino de glória que fale,
De esperança de um novo porvir,

Com visões de triunfos embale
Quem por ele lutando surgir.

Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós
Das lutas, na tempestade
Dá que ouçamos tua voz.


Nós nem cremos que escravos outrora,
Tenha havido em tão nobre paísHoje o rubro lampejo da aurora,
Acha irmãos, não tiranos hostis.

Somos todos iguais, ao futuro
Saberemos unidos levar,
Nosso augusto estandarte, que puro,
Brilha avante, da Pátria no altar.

O uso que fazemos de nossa LIBERDADE não tem que ser divulgado. O Pai vê !


Dizemos que a liberdade do Pai é absoluta.
Dizemos que a liberdade do Filho é a Liberdade perfeita.


Aqui, na passagem de Mc, do segredo messiânico, Jesus faz uso de sua liberdade e pede aos apóstolos que silenciem.


A liberdade de escolha de algo objetivo (café ou chá) e a liberdade de uma escolha subjetiva, que muda a mim mesma, que faz de mim uma pessoa melhor - ou pior - que faz de mim um amigo, um pai, um filho, um aluno. Esta liberdade que chamamos subjetiva deve sempre me fazer melhor, me tornar eternamente melhor pelos meus pequenos atos (subjetivos).

A LIBERDADE CRISTÃ- II Parte

Para Rahner, a liberdade é o evento do eterno; e para compreender o que isto significa é necessário ¨libertar¨ a palavra liberdade de suas reduções, retirando-lhe o peso do efêmero. Isto porque a compreensão de liberdade cristã está atrelada à uma misteriosa experiência. 

O mistério está na experiência que se dá - apenas e de modo  indissociável - na relação do ser humano com Deus. 

Quero com isto dizer que a liberdade que pretendemos des-cobrir nesse Blog tem a sua origem encoberta no ¨mistério absoluto a que chamamos Deus¨.

Vamos estar atentos em nosso dia-a-dia para perceber a liberdade como a realidade da experiência transcendental. 

E isto se dá quando cada um de nós experimenta a sua própria ação não como um evento objetivo (prefiro café), mas como um evento subjetivo (os pais que alteram o ritmo de sua vida para se dedicar ao bebê recém-nato), em que o homem experiencia um acontecer salvífico, na medida em que o exercício da liberdade não se reduz a uma escolha efêmera, mas implica o evento, cujo objeto valorado é o próprio homem. 

Nas palavras de Rahner,


quando se entende realmente a liberdade, compreende-se que ela não é a faculdade de fazer isto ou aquilo, mas a faculdade de decidir sobre si mesmo e construir-se a si mesmo. 

CFF 54.

A autora do Blog esteve ausente. Por isso o Blog volta hoje, pingando gotas sobre a LIBERDADE, o tema em que paramos.

Teologia de Karl Rahner: Liberdade: o grande tema do amor cristão. A palavr...: O tema da liberdade é permanente na minha vida. E eu ousaria dizer que ele deve ser permanente na vida de todos os seres humanos. Como ...

sábado, 14 de janeiro de 2012

Este Blog já disse que gosta de trabalho bonito ! Por isso hoje vem este vídeo lindo, emocionante, da banda dos nossos fusileiros navais, que faz bonito pelo mundo todo usando da LIBERDADE DE CRIAR.


Eu li num email que quando Cole Porter veio ao Rio, assistiu do palanque oficial o desfile de 7 de Setembro. 

Quando passou a Banda Marcial do Corpo de Fuzileiros Navais, ele puxou o Ary Barroso pela manga do paletó e perguntou sério:
- O que é isso? Eles não seguem a cadência do bumbo como todos os militares do mundo? 

- Eles pisam num ponto surdo entre as batidas! 

- E eles balançam para os lados como se estivessem dançando!!!
O Ary respondeu: 
-É porque é uma banda de mulatos que tocam de ouvido e não marcham. 
Eles desfilam, o que é diferente 

Esse balanço se chama "ginga", mas eu não vou tentar te explicar porque você não entenderia nunca...
A banda marcial não tem instrumentos musicais convencionais, mas apenas clarins, cornetas, pífaros e gaitas de foles, além da ala chamada "pancadaria".

Veja o filme do You Tube.
Banda Marcial do Corpo de Fuzileiros Navais (do Brasil)  em apresentação no maior festival de bandas militares do mundo ,  "Edinburgh Military Tattoo 2011"  , realizado na  Escócia  no período de 05 a 27 de agosto. Tocando música popular brasileira com gaita escocesa dentro da ... Escócia.


É a verdadeira ¨AQUARELA BRASILEIRA¨. Segue a letra para dar uma conferida, depois de curtir o vídeo do nosso Brasil tão brasileiro !!!


Brasil!

Meu Brasil brasileiro
Meu mulato inzoneiro
Vou cantar-te nos meus versos
O Brasil, samba que dá
Bamboleio, que faz gingar
O Brasil, do meu amor
Terra de Nosso Senhor
Brasil! Pra mim! Pra mim, pra mim

Ah! abre a cortina do passado

Tira a mãe preta do cerrado
Bota o rei congo no congado
Brasil! Pra mim!

Deixa cantar de novo o trovador

A merencória luz da lua
Toda canção do meu amor

Quero ver a sá dona caminhando

Pelos salões arrastando
O seu vestido rendado
Brasil! Pra mim, pra mim, pra mim!

Brasil!

Terra boa e gostosa
Da morena sestrosa
De olhar indiscreto
O Brasil, samba que dá
bamboleio que faz gingar
O Brasil, do meu amor
Terra de Nosso Senhor
Brasil! Pra mim, pra mim, pra mim

Oh esse coqueiro que dá coco

Onde eu amarro a minha rede
Nas noites claras de luar
Brasil! Pra mim

Ah! ouve estas fontes murmurantes

Aonde eu mato a minha sede
E onde a lua vem brincar
Ah! esse Brasil lindo e trigueiro
É o meu Brasil brasileiro
Terra de samba e pandeiro
Brasil! Pra mim, pra mim! Brasil!
Brasil! Pra mim, pra mim! Brasil!, Brasil!




sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

I BELIEVE I CAN FLY. Eu creio, eu acredito, eu sou livre. Esta deliciosa canção não é muito difundida no Brasil, como Gospel. De um modo lindo ela nos fala da liberdade.


I Believe I Can Fly


I used to think that I could not go on
And life was nothing but an awful song
But now I know the meaning of true love
I'm leaning on the everlasting arms



If I can see it, then I can do (be) it
If I just(can) believe it, there's nothing to it



I believe I can fly
I believe I can touch the sky
I think about it every night and day
Spread my wings and fly away
I believe I can soar
I see me running through that open door
I believe I can fly
I believe I can fly
(Oh) I believe I can fly



See I was on the verge of breaking down
Some times in silence can seem so loud
There are miracles in life I must achieve
But first I know it starts inside of me


'cause I believe in you


Eu Acredito Que Posso Voar


Eu pensava que não aguentaria seguir em frente 
E que a vida nada mais era do que uma música horrível.
Mas agora sei o significado do verdadeiro amor,
E me aconchego nas mãos eternas ...



E o que eu posso ver, eu posso ser
E se eu acreditar ... nada há de me impedir !



Eu acredito que posso voar
Eu acredito que posso tocar o céu ...
Eu penso nisso noite e dia
Abrir as minhas asas e voar para bem longe
Eu acredito que posso elevar-me
Eu me vejo saindo através da porta ,
Eu acredito que posso voar
Eu acredito que posso voar
Eu acredito que posso voar



Vejo que estava na beira do abismo...
Às vezes o silêncio grita alto!
Há milagres na vida que eu devo alcançar...
Mas, primeiro, eu devo saber que eles partem de dentro de mim.



porque eu creio em Ti !



Liberdade: o grande tema do amor cristão. A palavra ¨liberdade¨ sofre quase tanto quanto a palavra ¨amor¨. São duas coitadinhas no nosso mundo. Vamos ver como Rahner diz que LIBERDADE ¨É O EVENTO DO ETERNO¨.


O tema da liberdade é permanente na minha vida. 
E eu ousaria dizer que ele deve ser permanente na vida de todos os seres humanos. Como assim ?

Primeiro, é bom dizer o que liberdade não é: 

  • liberdade não é - embora a propaganda assim o diga - uma calça azul, jeans, velha, e desbotada;
  • liberdade não é apenas a de escolha. É também. Eu não posso me reduzir à escolha de chá ou café !
  • liberdade não se refere às coisas que passam, não se refere ao efêmero. Usar piercing não é usar da minha liberdade; é me render ao último grito do uso comum. 
E por aí poderíamos fazer uma imensa lista do que não é a liberdade, como os cristãos a devemos entender.

Se é assim, para chegar no que é a liberdade cristã, a nossa primeira providência seria libertar o conceito de liberdade das reduções em que a palavra hoje se encontra aprisionada.

Neste sentido, ¨libertar¨ a liberdade significa tirar-lhe o peso do efêmero, que talvez seja a marca do homem da chamada pós-modernidade e que, no extremo, é o que escraviza impeditivamente o entendimento da liberdade cristã, nas palavras de Rahner, como o ¨evento do eterno¨.

... continua ...

Boa tarde, com Bach no coração.


quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Decidi colocar no Blog o texto da dissertação do meu mestrado, apresentado e defendido na FAJE: A Liberdade como misterioso evento salvífico da autocomunicação de Deus, segundo a teologia de Karl Rahner

'via Blog this'

A autora do Blog esclarece que:

1) gosta de respeitar direitos autorais. Por isso colocou um link da Amazon.com que ¨toca¨clips em MP 3. Você pode ouvi-los enquanto lê os posts do Blog e também perceber o quanto é acessível comprar um single, ou mesmo um disco todo (já nem sei se digo LP, CD, ou o quê...); e

2) não consegue controlar sua vontade de ler. Como já ultrapassou os 60, claro que dá preferência aos livros na base tradicional, com cheirinho do papel e outros gostos, embora, faz um tempo (linguagem de mineiro...), passa as noites lendo no Kindle ou em outra base qualquer (tablet e celular), tamanho o encantamento que percebe na oferta do que antes nem poderíamos sonhar;

3) vai deixar aparecer no Blog sugestões que a própria Amazon.com vai inserir como produtos de interesse de quem se interessa por um Blog de teologia, por ler etc...

4) (embora ainda não tenha conseguido apertar o botão correto), vai deixar exposto no Blog a sua lista de livros desejados (My Wish List). E avisa que não é para pedir de presente, hem gente ..., mas é um jeitinho de dividir com vocês o que eu ando querendo ler e o que estou lendo. Quem sabe podemos falar sobre estas leituras, também.


beijo no coração,

Jussara Linhares

Você acha que é possível dizer TUDO de modo simples ?


Para muitos leitores, os textos da teologia filosófica de Rahner são difíceis de serem lidos.

Ocorre que Rahner é um teólogo sistemático e a sua obra é marcada pelo entrelaçamento e pela complexidade das realidades do cristianismo. 

Por isso, não perseguir esta complexa trama do seu pensamento teológico implicaria no risco de cairmos  numa “temível simplificação”, conforme a advertência do próprio Rahner:

Quem leva em consideração apenas uma parte dentro de um estado de coisas complexo, pode falar de um modo “claro”. 
Sua clareza, contudo, é tão-só a de um temível simplificateur (simplificador). Quando o objeto não permite que a sua realidade seja simplificada, é inevitável certa complicação na linguagem (1).




A charge acima, foi dada como presente ao próprio Rahner, por um de seus leitores. Ela exemplifica muito bem o que acontece... 

No primeiro quadro, ¨Rahner¨ fala a uma plateia de ¨multiplicadores¨ da fé, ou seja, ele discursa conforme o que ¨ouviu¨ do Espírito Santo e o diz de modo complexo;

No segundo quadro, os ¨multiplicadores¨, que ouviram a Palavra de Deus de Rahner, vão repassá-la aos simplificadores; e

No terceiro quadro, os ¨simplificadores¨ transmitem de modo ¨simples¨ a Palavra de Deus, e ...

assustam ao próprio Jesus Cristo que diz: 
- Não entendo.

Acho ótima esta brincadeira que fizeram com Rahner e seu modo complexo de pensar. Em nossa vida pessoal podemos exemplificar isto. 

Quem já não ouviu dizer que todo brasileiro é um bom técnico de futebol, entende tudo de economia e de teoria do crime. Basta a seleção perder, a inflação subir e haver um novo crime que toque a opinião pública. 

Mas, pergunte a um estudioso em qualquer das três áreas e veremos que cada uma delas carrega uma complexidade imensa, tornando o discurso simples, um discurso raso e nem sempre, ao final, claro, porque deixou de lado questões importantíssimas que deveriam ter sido analisadas no bojo de cada problema.

A intenção é que possamos ser mais pacientes com a complexidade dos problemas e menos imediatistas com as leituras curtas que atraem, mas podem empobrecer o nosso Espírito. 

(1) RAHNER. In Publik-Forum, 23 de fevereiro de 1979, nº 4, 13. Apud H. VORGRIMLER. K. Rahner: experiencia de Dios em su vida y en su pensamiento. Santander: Sal Terrae, 2004, 23. Tradução brasileira: Karl Rahner: experiência de Deus em sua vida e em seu pensamento. SP: Paulinas, 2006, 25-6. As  referências a esta obra se farão pela abreviatura EDV, segundo a edição em Espanhol.  

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Gente, olha o NOVO SITE DA JMJ Rio 2013. Quem quiser ser voluntário já pode se cadastrar . Bacana

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Diante de um mundo renovado e cheio de novas ideias, Rahner grita: EU NÃO SOU APENAS UMA IDEIA ! Vamos entender a relação de seu grito a partir do mundo em que ele vivia e que caminhava rapidamente para a secularização..


Neste mundo, então o centro das inovações, surge uma vanguarda que escandaliza, que prega a renovação da sociedade por meio da guerra e a convivência com o contraditório. 

Isso não quer dizer que o mundo que Rahner viu parecesse louco: muito mais do que isso, o que Rahner viu, foi a reação que fez surgir o antimoderno e que obrigou o “esforço quotidiano” de suas ideias a dialogar o cristianismo com os expoentes da filosofia, da política, das ciências e da cultura de então, a partir do belo arrazoado que ele mesmo dá:

Eu não sou apenas uma ideia; eu não posso abandonar a história nas mãos das minhas ideias. 
Por isso, eu sei que a história de Jesus não pode derrotar-me e deixar-me abandonado, ainda que, naturalmente, ela se encontre carregada de todo o relativismo do histórico e com todas as obscuridades do conhecimento dos fatos consumados (1).

Assim, atento ao mundo e às mudanças no seu entorno, Rahner manteve em sua vida pessoal amizade com escritores, como a novelista Luise Rinser (2), ensaístas e poetas católicos, que lhe renderam demonstrações desse seu cuidado na observação lúcida do mundo que o cercava, o que foi perenizado na edição de livros comemorativos de várias datas natalícias suas. 

Na passagem de seus 60 anos (3), a edição conta com textos de Heinrich Böll (4) e de Gertrud von Le Fort (5), além do filósofo M. Heidegger, dos teólogos protestantes ecumênicos, K. Barth, R. Bultmann e G. Ebeling (6), dentre centenas de outros nomes.

Acredito que este grito de Rahner - Eu não sou apenas uma ideia; eu não posso abandonar a história nas mãos das minhas ideias - seja um verdadeiro ato de fé. Rahner não admite que as ideias que brotavam de todos lados da renovada cultura de então pudessem incorporar e reduzir Jesus Cristo a mais uma boa ideia...

Para o cristão, este é um perigo recorrente, porque quanto mais eu reduzo Jesus apenas ao que nós hoje descobrimos sobre o Jesus histórico, mais eu me sinto derrotada e abandonada, diante da ausência de Deus.

Nós sabemos, e sabemos disso com muito orgulho e alegria pelo trabalho humano, que  nos últimos 50 anos, a ciência histórica descobriu mais dados sobre a Bíblia e, em especial, sobre as análises do Jesus histórico, do que em todo o restante da era cristã.

Mas devemos estar atentos, porque Jesus Cristo, o Senhor, é inalcançável cientificamente! As pesquisas históricas enriquecem o nosso conhecimento sobre a sua historicidade humana. Mas o Cristo, o nosso Senhor Jesus, só conhecemos por meio do Espírito Santo de Deus.



(1) RAHNER. SZT, vol. XIV (1980), 17-18. Citado por H. Vorgrimler, in Karl Rahner: Experiencia de Dios en su vida y en su pensamiento (abaixo como EDV) 16.
(2) Luise Rinser (1911-2002) uma das maiores novelistas e contistas do século passado, vendeu mais de cinco milhões de livros em alemão, fora as traduções em vinte outros idiomas. Alemã, nascida na Bavária, católica, teve a vida marcada por desafios: feminista, pacifista, lutou contra armas nucleares e protestou contra as guerras. Fez campanha por Willy Brandt e em 1984 concorreu à presidência do então jovem Partido Verde.  Casou-se com o músico Günther Schnell e com ele teve duas filhas. Com a ascensão do Nazismo e a recusa do casal em colaborar com o regime, teve seu marido morto em 1943 e ela, sob igual condenação foi presa e escapou da morte com o fim da Guerra.  Em 1954, casou-se com o já então famoso compositor de Carmina Burana (1927), Karl Orff, de quem se divorciou em 1959. . In EDV. p. 114-116. 
(3) Ao completar 60 anos, Rahner recebeu esta homenagem em dois volumes de 667 e 964 páginas, respectivamente. O título, Deus no mundo. A “Tábula gratulatória” incluía 14 cardeais, 2 patriarcas, 24 arcebispos, 150 bispos, numerosos teólogos protestantes, além de 564 pessoas de todos os âmbitos imagináveis. Rahner considerou esta impressionante lista de nomes como um tipo de escudo protetor. In EDV 121. 
(4) Heinrich Böll (1917-1985), ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1972, deixou uma vasta obra cuja tônica é a luta contra a omissão, a injustiça e a opressão. Defensor implacável dos direitos humanos, antimilitarista convicto e um dos primeiros ativistas em defesa do meio ambiente, pela sua postura inabalável, pelo seu papel na divulgação dos ideais democráticos e o seu ativo engajamento nas causas pacifistas, Böll foi eleito o símbolo da integridade humana.
(5) Gertrud von Le Fort (1876-1971), protestante convertida ao catolicismo, a poetiza alemã é autora de vários livros, tendo alguns deles sido reescritos para o teatro e o cinema.
(6) EDV 121.