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domingo, 10 de junho de 2012

Para Rahner, a devoção ao Sagrado Coração de Jesus atua como um antídoto aos perigos que a espiritualidade inaciana vai encontrando ao longo do tempo. Veja como ele pensa.

A devoção ao Sagrado Coração de Jesus e a espiritualidade de santo Inácio de Loyola
Neste artigo, Rahner esclarece que este carisma não pertence apenas a uma congregação da Igreja e nem todos os seus membros a vivem com igual intensidade. A consequência que ele tira  é que somente podemos avaliar um determinado carisma, olhando o todo da Igreja. 
A partir desse ponto, ele ensina que os pontos centrais de uma espiritualidade (no caso da inaciana: a indiferença, o existencial e o eclesial) vão encontrando ¨perigos¨ ao longo da história e do tempo e encontram na devoção ao Sagrado Coração de Jesus uma espécie de ¨corretivo¨, algo que funcione como um antídoto aos elementos do mundo que podem atuar contra determinada espiritualidade. Vamos ver nas palavras de Rahner como funciona este belo antídoto. 


Rahner, em um artigo, fala de sua espiritualidade com o surpreendente auxílio da devoção ao Sagrado Coração de Jesus, que é uma das marcas da espiritualidade da Companhia de Jesus.

Ele aponta três elementos centrais da espiritualidade inaciana como sendo: a indiferença, o existencial e o eclesial, que lutam permanentemente contra alguns perigos que encontrariam corretivo na devoção ao Sagrado Coração de Jesus. 

Por isso, ele assevera que a espiritualidade e a devoção ao Sagrado Coração de Jesus formam uma unidade essencial que deve ser seriamente examinada.

Ele reconhece que é difícil para qualquer congregação religiosa manter o seu carisma através do tempo e, além disso, cada membro da Companhia apenas manifesta este carisma num maior ou menor grau.

Nesse artigo, Rahner pede que, nesse momento de meditação, o leitor se volte para o seu “interior” ao invés de julgar de pronto a espiritualidade vivida pelos outros. Isto porque nenhum carisma na Igreja é único, particular a uma só ordem, portanto, o ¨todo da variedade¨ de espiritualidades somente faz sentido no contexto de toda a Igreja.

Ele observa um certo desleixo  nos carismas de várias ordens e diz que, ao tempo em que devemos aceitar os benefícios deste desenvolvimento, devemos também resistir a seus perigos. Para Rahner, nós devemos aceitar os vários impulsos espirituais que penetram em nossas vidas, porque faz parte do nosso destino trabalhar para desenvolvê-los e neles basear o caminho condutor de nosso próprio caráter e temperamento.

As características essenciais da espiritualidade inaciana, para Rahner, são:

·      A indiferença – que ele traduz como um senso refinado da relatividade de tudo que não é Deus, e a convicção de que Deus é sempre maior;
·      O existencial – que ele traduz como a reunião prática das ramificações da indiferença. É a separação que faz o indivíduo sempre aberto a Deus, embora Deus possa revelar-Se no vazio ou na plenitude; e
·      O eclesial – que ele traduz como o amor de Inácio pela Igreja, que não era um homem ingênuo. Rahner faz esse alerta porque nós amamos a não-ambígua Igreja visível, apesar de suas fraquezas e fracassos, amando, assim, todas as coisas finitas que Deus tenha desejado, porém conhecendo tudo que há como não sendo Deus.

E a devoção ao Sagrado Coração de Jesus atua como um contrapeso interior da espiritualidade inaciana, porque o que há de especial em cada carisma não é a história toda. De fato, o que há de especial, algumas vezes é perigoso num estado quimicamente puro. Estranho como pode parecer, devemos trabalhar para desenvolver virtudes fora do usual para equilibrar como um contra-peso aos elementos destrutivos de um carisma.
A indiferença pode ser pervertida e se transformar em puro funcionalismo; o existencialismo pode levar à dureza de coração, e o amor da igreja pode levar a igreja a ser um fim em si mesma. A devoção ao Sagrado Coração de Jesus é o requisito antitoxina, gerada pela espiritualidade inaciana em si, contra estes perigos inerentes a ela.
Rahner aponta como as características da indiferença, do existencial e do eclesial podem ser corrompidas e como o “amor” é o seu antídoto e adverte: 

Mas a última fonte do amor é o Coração do Senhor. Daí que a espiritualidade inaciana somente pode ser saudável se amar aquele Coração e amar numa unidade com ele. De outro modo, tudo isto é o que há de mais sublime em si e se torna o mais mortal, porque qualquer antídoto efetivo deve estar relacionado ao que ele combate, por isso, a devoção ao Sagrado Coração de Jesus e a espiritualidade inaciana devem estar intrinsecamente relacionadas.

O Sagrado Coração de Jesus é, ao mesmo tempo, a fonte e a salvaguarda das três característica associadas à espiritualidade inaciana. Para Rahner, o amor venerado no Sagrado Coração de Jesus funciona desse jeito com relação à indiferença, ao existencialismo e ao amor à igreja. Em cada análise, o mote é o mesmo: Rahner aponta como cada um dos três é um produto, um momento intrínseco do amor.
Apenas quando ele é vivido radicalmente até as últimas consequências é que ele evita os perigos que o cercam. Nós que somos animados pela bênção de ter o Espírito do amor soprando do coração perfurado de Cristo devemos compreender como na morte da indiferença, nós vivemos para viver;

como suportamos a solidão de nossa própria unicidade apenas porque podemos, no amor, descobrir o outro e servi-lo; e como amamos a Igreja a fim de amar todos os homens.



Cf. 384E) 1955 – Spiritualité ignatienne et dévotion au Sacré-Cœur: Les Carnets du Sacré-Cœur 13 (1956) 25-43 e RAM 35 (1959) 147-166 e em inglês, Ignatian Spirituality and Devotion to the Sacred Heart: Woodstock Letters 91 (1962) 18-35. No original, Ignatianische Frömmigkeit und Herz-Jesu-Verehrung: Korrespondenzblatt des PGV im Canisianum zu Innsbruck 90 (1955) 5-17.

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