Participe !!!

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quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

pe. James Martin, SJ, uma bela apresentação contemplativa dos Exercícios Espirituais de santos Inácio de Loyola.



Acompanhar a apresentação do pe. James Martin sobre o ensinamento de santos Inácio de Loyola, de encontrar Deus em todas as coisas é uma experiência contemplativa.

Busque um local calmo, busque um momento silencioso e acompanhe, participe, contemple.

Se quiser, deixe ao final um comentário ou melhor, faça você uma anotação breve da experiência orante.

Thomas Merton: uma apresentação bonita de sua vida e de sua conversão.




O narrador do vídeo é o pe. James Martin, jesuíta da American Magazine.

É a segunda vez que a autora do Blog encontra um jesuíta que se confessa vocacionado pelo Pai, pelo Filho, pelo Espírito Santos e pela Montanha dos Sete Patamares, um marco na obra de Thomas Merton.





Quem foi Bernard Lonergan? Ouça e conheça-o!


Roma (RV) - Bernard Joseph Francis Lonergan foi um padre jesuíta canadense que viveu no século XX. Filósofo, teólogo e economista, foi professor do Colégio Loyola de Montreal, da Universidade de Toronto, da Pontifícia Universidade Gregoriana em Roma e do Boston College.

Uma das obras mais conhecidas de Lonergan é “Insight”, sobre a inteligência humana. Este estudo não foi muito bem compreendido na época, e com “O Método em Teologia”, reúnem uma série de exercícios para a conversão espiritual. 

Os maiores conhecedores do filósofo e alguns seus ex-alunos se reuniram na Universidade Gregoriana recentemente para “revisitar a antropologia” de Lonergan. Um deles é Pe. João Villa-Chã, Professor de filosofia, que em exclusiva à RV, examinou a relação entre a obra do mestre e o ministério de Jorge Bergoglio como Papa Francisco. 

Um dos temas muito fortes do pensamento de Lonergan é convidar as pessoas – ele fazia isso com seus alunos – a prestar atenção. Creio que o Papa Francisco em seu ministério, tem feito justamente isso: convidar as pessoas a prestar atenção a si próprias, a prestar atenção aos outros, a prestar atenção à Palavra de Deus, àquilo que nos acontece no dia a dia, e, sobretudo, prestar atenção a esta questão fundamental para a vida humana, que é a dinâmica da caridade do amor”.

“Lonergan dizia que o ser humano tem que aprender a colocar-se questões, a interrogar-se sobre si próprio, aprender a refletir sobre a própria experiência, porque em ultima análise, o que conta realmente no processo da evangelização, do Evangelho e de seus valores, é que a pessoas se descubram à luz de Deus, que se revejam à luz de Deus, que entendam que seu destino não é apenas o imediato, do aqui e agora, mas que tem um valor transcendental e transcendente”.


Texto proveniente da página http://pt.radiovaticana.va/news/2013/12/11/quem_foi_bernard_lonergan_ou%C3%A7a_e_conhe%C3%A7a-o!/bra-754717
do site da Rádio Vaticano 



Quem foi Bernard Lonergan? Ouça e conheça-o!:

'via Blog this'

sábado, 7 de dezembro de 2013

A imaculada liberdade de Maria



A Solenidade da Imaculada Conceição, Festa de toda a Igreja em que, de alguma forma, culmina a devoção eclesial de/a Maria, faz-me pensar sobretudo em coisas como as seguintes: 
1. A Mãe do Salvador é Imaculada, nós não somos. 
2. A Imaculada evocada na Solenidade da Igreja é a Cheia de Graça endereçada pelo Anjo Gabriel, ao passo que nós permanecemos o que somos: pobres pecadores. 
3. Maria é a criatura perfeita, nós apenas e só Peregrinos da Perfeição. 
4. A Imaculada Conceição de Maria, Mãe de Quem nos salva, foi declarada, em 1854, dogma constituinte e provado da Fé da Igreja, e contudo o dogma de forma alguma contradiz a Razão; antes pelo contrário, o Dogma só o é porque ao promulgá-lo a Igreja tem a Razão, toda ela, do lado que lhe pertence. 
5. A Perfeição da Imaculada não é dela, humilíssima por natureza, mas dom de Cristo recebido por antecipação. 
6. Maria sabe quem é, e por isso aceita até ao Fim a Sua condição de “Theotokos”, de Mãe de Deus, chamada a ser, como mulher e mãe, Senhora da Redenção. 
7. Celebrar as Glórias de Maria é celebrar o facto de nela só Deus ter lugar, pois nela tudo é de Deus e Deus n'Ela é Tudo o que nela há de pessoal – de facto, nas palavras do Anjo da Anunciação, Ela é a Cheia de Graça, bendita entre todas as mulheres. 
8. A Solenidade da Imaculada Conceição é grandiosa na vida da Igreja, pois o mistério que agora se articula é um daqueles, entre todos excelso, cuja Luz nos mostra não só que Deus é mas também nos diz muito do somos nós, do género: Deus é o tudo que está em todos; nós decaímos no nada sempre que esquecidos d’Aquele que é o Tudo que nós não somos. 
9. Assim, celebrar a Imaculada Conceição é cair na conta de que o tempo de agora é de advento e que nada há de melhor do que imitar Maria, pois concebida sem pecado para nos fazer realizar a intenção mais pura e necessária de todo o Advento, ou seja, dispormo-nos, como Ela, a acolher o Deus que vem e a aceitar como Dom urgente e necessário o Dom que Maria, concebida sem pecado, aceitou sem precisar: refiro-me, claro, ao Perdão que só de Deus nos pode vir. 
10. Enfim, penso que celebrar a Festa da Imaculada Conceição é oportunidade sublime para celebrar a Promessa que em Cristo já temos realizada, aquela mesma que em Maria se fez plenitude de Graça e que, pela sua mão de Mãe, nos pode justamente levar a ser o que só Deus, por gratuidade do Amor mais puro, nos pode fazer realmente ser: Livres, de tudo e para todos; livres para Amar!

Este texto é do prof. João Vila-Chã, SJ e foi publicado hoje, no FB, 
em Ask a Jesuit (João J. Vila-Chã, SJ)

The Ignatian Schola -- MID-WINTER (Rossetti/Chilcott)



Que lindo !!!
Não percam !!!

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

A eterna jornada da comunicação do cristianismo, no esforço da fé de Karl Rahner

artigo da autora do Blog do Rahner, publicado na Revista de Cultura Teológica da PUC-SP

Jussara Filgueiras Dias Santos Linhares

Resumo


O presente artigo aborda o desafio de comunicar o Cristianismo aos nossos contemporâneos. Nesse sentido, o êxito do papa Francisco em seus quatro meses de pontificado vem impactando o mundo. 

Os nossos contemporâneos sobrevivem a um bombardeio de informação de naturezas tão diversas que a missão de comunicar o cristianismo deve partir da identificação do que efetivamente se constitui no núcleo da existência cristã, o que Francisco reitera cada dia, no uso reiterado de expressões como “sair de si”, encontro, relação, diálogo, amor… 

Nesta busca, a autora encontra na gigantesca teologia de Karl Rahner, o encontro que a um só tempo define a relação entre o homem e Deus, na síntese: “o homem é o evento de uma autocomunicação de Deus absoluta, livre e que perdoa”. Esta síntese, para muitos autores, constitui o centro e o fundamento de toda teologia de Karl Rahner. 

Nesse sentido, e na intenção de apontar a experiência de Deus que o homem faz no mundo e no tempo em que vivemos, o artigo ressalta que “a existência cristã aborda a totalidade da vida do homem”. Apesar de Rahner haver falecido já há 29 anos, a atualidade de sua obra se encontra na prática de uma teologia ocupada com o homem em seu dia a dia e no amor a Deus que, ao autocomunicar-se, doa de si à sua criatura. 

Assim, o tema da autocomunicação de Deus permitiu tirar lições da rica Tradição cristã, por seu passado de XX séculos e apontar um caminho para hoje, assim como rumos para a Igreja do Futuro, que se quer no mundo onde os homens, afinal, convivem e acolhem a autocomunicação de Deus, que é Deus.

A eterna jornada da comunicação do cristianismo, no esforço da fé de Karl RahnerPDF
Jussara Filgueiras Dias Santos Linhares55-74



Francisco Xavier: o aventureiro de Deus. Entrevista especial com o jornalista espanhol Pedro Miguel Lamet


No ano de 2006, comemora-se o quinto centenário de nascimento de são Francisco Xavier, um dos primeiros padres da Companhia de Jesus. Nascido em 1506, Francisco Xavier, companheiro de Inácio de Loyola, foi um missionário e apóstolo das índias, um dos pioneiros e co-fundador da Companhia de Jesus. Morreu na China, em 1552, onde se preparava para evangelizar essa vasta região. Foi canonizado pelo Papa Urbano VIII. 


O jesuíta espanhol Pedro Miguel Lamet lançou em março deste ano o livro El aventurero de Diós, que conta a história de são Francisco Xavier. A novela histórica, como é classificada a obra, foi publicada pela editora La Esfera de los Libros, de Madrid, e já está na 2ª edição. Em preparação ao Seminário A globalização e os Jesuítas: origens, história e impactos, que acontecerá de 25 a 28 de setembro na Unisinos, a IHU On-Line entrevistou Pedro Lamet, por e-mail, sobre a obra que fala de Francisco Xavier. 



Pedro Miguel Lamet, poeta, escritor e jornalista ingressou na Companhia de Jesus, em 1958. É licenciado em Filosofia, Teologia e Ciências da Informação e formado em Cinematografia. Posteriormente, foi professor de Estética e Teoria do Cinema nas Universidades de Valladolid, Deusto e Caracas, sem nunca abandonar a crítica literária e cinematográfica.



Trabalhou em diversos veículos midiáticos, como a revista Cinestudio, diário Pueblo de Madrid, semanário Vida Nueva, semanário El Globo e o diário El País



Atualmente, é diretor da revista bimestral de desenvolvimento pessoal A vivir. Como escritor, publicou poesia, ensaio, biografias, crítica literária e cinematográfica. Além da biografia que é tema da entrevista que segue, Lamet escreveu vários livros entre os quais: Arrupe, una explosión en la Iglesia. Madri: Editora Temas de Hoy, 1989. A nona edição foi publicada com o título: Arrupe, un profeta para el siglo XXI, Madri: Editora Temas de Hoy, 2001, Juan Pablo II, Hombre y Papa (1995-2005), Un jesuita sin papeles (2005), sobre José María Díez-Alegría. Também publicou a novela histórica El caballero de las dos banderas: Ignacio de Loyola (2000). 




IHU On-Line - O que a obra "El aventurero de Diós" passa de mais importante? 



Pedro Lamet - Lida como obra do século XXI, ela transmite uma façanha que hoje chamaríamos "globalizante" e inconcebível para o século XVI, quando, com as limitações das comunicações daquele tempo, o mundo começou a ficar pequeno. A cada três dias de sua vida, um deles, Francisco Xavier passou navegando. Percorreu 80 mil quilômetros, o equivalente a duas voltas ao mundo. Suas 137 cartas, escritas em pobres cabanas, transformaram-se em crônicas vivas de um mundo de sonhos, o desconhecido Oriente, que se devoravam nas universidades e cortes européias. 



Colocou-se em questão seu diálogo intercultural, tío em voga hoje, com aqueles mundos recém-descobertos para os europeus. É certo que Xavier tinha pressa, não só por sua dupla identidade de atleta e apaixonado, mas porque lhe urgiam as ordens do Papa em sua missão de núncio. Além disso, ele tinha uma concepção teológica da salvação, própria da época, e uma certa obsessão com o inferno, mais evidente, por exemplo, que em Inácio de Loyola ou Pedro Fabro. Mas também é certo que ele experimentou interiormente uma forte evolução ao chegar ao JaPão. Se ele somente alcançou a descoberta da sabedoria mística da índia, seus primeiros fracassos no país do Sol Nascente fizeram-no evoluir. 



"Padre mestre Francisco - disse um contemporâneo seu - se na índia pescava com rede, no JaPão aprendeu a pescar com caniço", ou seja, aprendeu a dialogar com os monges zen sobre o sentido da vida, o problema do mal e a lei natural, a deixar por escrito suas perguntas e respostas e a enamorar-se rendidamente pelo nível intelectual e por muitos costumes e descobertas dos japoneses, até trocar sua própria vestimenta e o seu austero estilo ascético para poder entrar em diálogo com eles. 



No entanto, sem dúvida, o mais importante era o seu motor interior, a espiritualidade do magis inaciano, um "mais, mais e mais" que o empurrava para frente e o unia misticamente com Deus. 



IHU On-Line - Como o senhor define a personalidade de Francisco Xavier? Por que ele era um aventureiro de Deus? 



Pedro Lamet - Alto e bem formado, tinha mais o ar de um galí de corte que de um clérigo. Parecia um bom ginete, um cavaleiro de armas, mais do que um mestre em Artes. Seu nariz perfeito estava no meio de um rosto com boa cor, que era emoldurado por um cabelo e barba de azeviche. Era uma dessas pessoas que, somente ao olhar, transmitem confiança e alegria. Impressionavam, sobretudo, seus olhos brilhantes e entusiastas que penetravam nas pessoas e pareciam dizer aos que o olhavam: viver vale a pena, viver é aventurar-se, é querer aos demais, é sonhar. 



Muito diferente e até oposto em alguns aspectos a Inácio de Loyola - que era mais introspectivo, mais psicólogo, mais condutor de almas - Xavier era um homem de ação, franco, direto, mas também com traços típicos de uma pessoa que reflete. Isso era fruto, sobretudo, do exercício que Santo Inácio chama "refletir sobre si mesmo", próprio da grande escola psicológica e espiritual dos Exercícios Espirituais, que Xavier praticou tío a fundo nos tempos de sua conversão, na Universidade de Paris. Era uma mistura, portanto, de simpatia e de fortaleza; magnetismo pessoal e temperamento forte; afetividade e exigência com ele mesmo, radicalismo evangélico e caridade sem limites aos fracos. 



IHU On-Line - Qual sua maior contribuição para a fé cristí no Oriente? 



Pedro Lamet - Sem dúvida, o diálogo intercultural, sobretudo, em sua segunda etapa no JaPão, onde teve que se inter-relacionar "pessoa a pessoa". Parece curioso que Lacouture, (tratas-se de Jean Lacouture, autor da obra, em dois volumes Jésuites. Volume 1: Les Conquérants - 1991e Volume 2: Les Revenants -1992 - Nota da IHU On-Line) escritor e jornalista leigo francês, em sua famosa obra Jésuites o considere um precursor de Nobile e Ricci, no esforço que caracterizaria no futuro a Companhia de Jesus, de reler o cristianismo de outras culturas, e que o padre Pedro Arrupe redefiniu com o eloqüente termo de inculturação. Também seu zelo ardente de evangelizador criou as primeiras comunidades cristís, algumas das quais viveram de forma autônoma, inclusive sem sacerdotes em relação à perseguição. Xavier regenerou o estilo missioneiro evangélico por sua atenção preferente aos mais pobres e esquecidos e, ao mesmo tempo, por seu humanismo e simpatia no trato com os soldados e famílias. Ele foi a primeira ponte cultural Oriente-Ocidente graças à sua interessante correspondência. 



IHU On-Line - Como a história de Francisco Xavier se entrelaça com a história de Inácio de Loyola? 



Pedro Lamet - Esse é um exemplo de como a fé e a amizade autênticas são capazes de passar por cima dos interesses e partidarismos políticos. Xavier arranca tudo das profundas mudanças que se produziram em seu castelo e sua família, quando a guerra do reino de Navarra, que se ergueu contra o de Castilla, em favor de Enrique II dAlbret, converte a fortaleza em uma estratégica emboscada de interesses políticos entre França e Espanha. Tanto que seus irmãos Miguel e Juan intervêm na tomada de Pamplona, onde em 1521 cai gravemente ferido de bala de canhío um tal de íí±igo de Loyola, cavalheiro vaidoso e mulherengo, que, graças àquela ferida, descobriria os sabores secretos da alma, o discernimento interior, e se converteria em pobre peregrino e fundador da Companhia de Jesus. Xavier só tinha 11 anos quando, muito triste, assistiu à demolição das torres de sua fortaleza e a usurpação de suas terras pelas tropas punitivas do regente cardeal Cisneros. Mesmo que Carlos V devolvesse a Navarra privilégios, direitos e honras, já não seria a mesma coisa. Don Juan, pai de Xavier, morreria de desgosto, e a sua míe passou a ser chamada desde então "a dama triste". É de imaginar o forte repúdio que sentiria Francisco em relação a Inácio ao se encontrarem na Universidade de Paris e a dificuldade que teve o segundo para converter o primeiro. "A mais dura pasta que me custou moldar", dizia de Xavier "o peregrino" Inácio. 



Mas dali nasceu uma amizade profunda. Inácio nomeou-o primeiro secretário da Companhia de Jesus, cargo que teve que deixar quando Portugal pediu missionários. A maior alegria para Xavier no Oriente era receber cartas de Inácio, a quem escrevia de joelhos e cuja assinatura recortada levava pendurada no pescoço em um relicário, com a dos outros companheiros. Inácio pensou que Xavier o sucederia à frente da Companhia, mas a carta em que lhe indicava que voltasse chegou ao Oriente quando Xavier já havia morrido. 



IHU On-Line - Qual a contribuição dos Exercícios Espirituais para a virada na vida de Xavier? 



Pedro Lamet - Inácio começou a convencê-lo pouco a pouco. Primeiro, por meio de seu companheiro de quarto, o doce Fabro. Depois, diríamos que "muito jesuiticamente", se nos permite o salto anacrônico, ajudando-o economicamente quando não recebia dinheiro de sua família. Entretanto, a grande decisão foi a prática dos Exercícios. Xavier os fez assim como ele era, de forma apaixonada e extremosa. Até o ponto que com cordas amarrou seu corpo, do qual estava tío ufano, tío fortemente, que teve que chamar um cirurgiío para separar as cordas. Dos Exercícios e da identificação com Cristo tirou o "mais", a uniío mística com Deus, o esquecimento de si mesmo e o ímpeto evangelizador. 



IHU On-Line - O que marcou a viagem de Xavier à índia? 



Pedro Lamet - Seu batizado no mar foi um verdadeiro noviciado como missionário. Demorou um ano e um mês para chegar a Goa, passando por calmarias enervantes, como a de Guiné, tempestades de vida ou morte, como a de Cabo de Boa Esperança, e enfermidades como a de Moçambique, a qual costumava chamar "o cemitério dos portugueses". Foi um tempo que viveu como servidor de todos. Os perigos do mar marcariam os onze anos de missão de Xavier. Depois, na índia, ele não chegou a captar completamente a riqueza espiritual do hinduísmo, talvez porque em um primeiro momento sua relação com esta religiío foi superficial e tratava, salvo alguma exceção, com pobres e incultos. 



IHU On-Line - Quais as principais características das cartas que Xavier escrevia para seus colegas jesuítas na Europa? 



Pedro Lamet - Eram cartas escritas em condições extremas, em um bom castelhano e outras em português, em que se refletia primeiro a fé e a espiritualidade cristí do correspondente, mas também o interesse cultural, a descrição de tudo quanto ia descobrindo. No início, estes textos, que fascinaram a Europa, foram copiados à mão e se espalharam como pólvora. Alguns foram impressos em seguida. são curiosas as recriminações que Xavier faz ao rei Juan III de Portugal, "o piedoso", seu amigo e, de certo modo, patrocinador da missão, sobre a corrupção de alguns capitíes. Ou sobre a forma de vida desregrada de muitos portugueses da colônia. Seus parágrafos mais emocionantes são aqueles que ele dedica a seus companheiros de Roma e Lisboa. 



IHU On-Line - Como foi sua vida apostólica no Oriente? E como aconteceu o processo de evangelização conduzido por Xavier no JaPão? 



Pedro Lamet - Ele vivia e vestia-se muito pobremente, dormia e comia pouco, exceto quando compartilhava com os demais. Seus preferidos eram as crianças, os pobres, os doentes e leprosos. Chamava as pessoas à catequese pelas ruas, com um sino, e compunha canções para memorizar o catecismo. Traduziu essas canções para várias línguas, inclusive ao japonês, com enorme esforço. Passava as noites em oração. í€s vezes, perdia a consciência de si enquanto caminhava em meditação, inclusive com os pés ensangüentados. Ele evoluiu em suas estratégias entre índia e JaPão. Sofreu crises em Santo Tomé e Malaca, desesperado pela atitude de alguns capitíes. E no JaPão fracassou no início, quando o enganavam e cuspiam nele. No entanto, mudou de método e até a forma de vestir-se, adaptando-se à forma de pensar dos japoneses. Tinha obsessão por alcançar a China, pois os japoneses lhe tinham dito que a sabedoria vinha daquele continente. No entanto, morreu nas suas portas, sem poder realizar este último sonho. 



IHU On-Line - Qual a mensagem de fé e confiança em Deus mais marcante de Francisco Xavier? 



Pedro Lamet - Sua confiança deixou raízes profundas ao ser posta à prova na mais completa solidío frente ao mal. Deus foi se revelando a ele nas adversidades. Em Xavier se revela a consciência da confiança em Deus para a completa purificação antes da morte e o triunfo definitivo: o mistério da Páscoa. 



IHU On-Line - O que faz de Xavier um verdadeiro santo? Que exemplos de milagres o senhor pode citar? 



Pedro Lamet - não é raro que homens providos de uma grande força interior tenham exercido o poder de cura. O que é incontestável é que Xavier alcançou, em seu tempo, sua fama de santo, não só por suas grandes virtudes, mas por certos poderes que eu acredito que não se analisaram suficientemente. Por exemplo, o de vidência, provado por centenas de testemunhas: conhecer o futuro de pessoas e coisas, o momento em que iriam falecer ou se uma nau iria ou não sofrer um naufrágio. Outro ponto era a força de sua oração para acalmar tempestades - famoso milagre do caranguejo -, e a capacidade de conhecer o pensamento de seus interlocutores. Seu grande biógrafo, Georg Schurhammer, pouco suspeito em sua germânica minuciosidade de falta de rigor, recolheu centenas de provas a este respeito, mas o melhor milagre é o de sua fé, sua confiança e sua entrega total. Todo o mundo o considerava santo antes de sua morte. Isso não quer dizer que não tinha defeitos. Como provincial foi duro, talvez porque vivia muito isolado de seus companheiros. Era muito simpático, o que não significa que não teve reações de raiva, como quando repreendeu a pederastia de alguns monges budistas. 



IHU On-Line - Por que o senhor acha que a maioria das pessoas que comparecem à festa de são Francisco Xavier é de não-cristíos? 



Pedro Lamet - Em Goa, compareciam mais de 200.000 pessoas em sua festa. A razío é que o consideram um patrimônio cultural seu, um santo amigo. No JaPão, as crianças sabem quem é são Francisco Xavier. O estudam em seus livros de textos. Na Espanha, lamentavelmente, as novas gerações ignoram quem é ele, em parte pela ignorância religiosa atual. No mundo, ele é mais popular que Inácio de Loyola. Talvez pelas características de grande viajante e navegante, por sua aventura missioneira. Em razío do seu V Centenário, o governo da comunidade autônoma de Navarra fez um grande esforço para torná-lo conhecido. 



IHU On-Line - Francisco Xavier é patrono universal das missões e da juventude. O que ele teria a dizer sobre isso nos dias de hoje? 



Pedro Lamet - A juventude de todos os tempos necessita ideais, precisa embarcar-se em aventuras generosas a serviço dos demais. Sem dúvida, a missão mudou. Hoje é preciso começar pela justiça e o compromisso social, mas tampouco basta para preencher completamente esta ânsia de ideais um compromisso temporal em uma ONG. É verdade que o caminho de Xavier não é para as maiorias, porém Deus segue chamando pessoas a dar tudo o que têm. Em alguns aspectos formais do século XVI, Xavier pode parecer distante, mas o fundo de sua peripécia espiritual e humana segue vigente: o seguimento de Jesus Cristo, a transmissão da boa notícia, o serviço aos pequenos, a total confiança em Deus, o magis inaciano, o diálogo cultural, a globalização a partir do amor cristío. Em uma palavra, o atrativo da missão. 



IHU On-Line - A frase "De que serve ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder sua alma?" ainda cabe na sociedade contemporânea? 



Pedro Lamet - Hoje os exegetas traduzem "alma" por "vida". Converter-se não é destruir-se, mas salvar-se, encontrar a plena realização, ser nós mesmos em profundidade. Isso requer renúncias, passar pela cruz, mas no fundo se traduz na autêntica auto-estima, renunciar ao "pequeno eu", em favor do "grande eu". Hoje percebemos mais do que nunca que a sociedade materialista do consumo neoliberal não preenche o coração. É preciso buscar outros caminhos que passam a apontar para o centro do homem, que é onde está sua verdade. Como dizia Jesus: "O reino dos céus está dentro de vocês". A frase hoje seria: "De que serve ao homem ganhar todo o mundo, se ele se perde a si mesmo?".

Francisco Xavier: o aventureiro de Deus. Entrevista especial com o jornalista espanhol Pedro Miguel Lamet

terça-feira, 26 de novembro de 2013

A Alegria do Evangelho !!! Resenha do prof. João Vila-Chã, SJ



A foto é do «Osservatore Romano» na sua edição de 27 de Novembro e serve de captação para o acontecimento que me interessa referir: a publicação esta manhã, aqui em Roma, da Exortação Apostólica «Evangelii Gaudium» / «Alegria do Evangelho», o primeiro documento do género produzido e publicado sob a autoridade de Papa Francisco. 

O documento é longo, mas apresenta-se com características de impressionante inovação, determinação reformista e com constantes apelos à verdade mais profunda da Igreja, ou seja, ao Evangelho e à Alegria que do mesmo deriva. 

A “alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus”: assim inicia a Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium” com a qual Papa Francisco desenvolve o tema do anúncio do Evangelho no mundo de hoje, ao mesmo tempo que recolhe a contribuição dos trabalhos do Sínodo que se realizou no Vaticano de 7 a 28 de Outubro de 2012, com o tema “A nova evangelização para a transmissão da fé”. 

Escreve o Papa: 

“Desejo dirigir-me aos fiéis cristãos para os convidar a uma nova etapa de evangelização marcada por esta alegria e indicar direcções para o caminho da Igreja nos próximos anos” (1). 

O Papa convida os cristãos a “recuperar a frescura original do Evangelho”, encontrando “novas formas” e “métodos criativos”, sem deixarmos enredar Jesus nos nossos “esquemas monótonos” (11). 

Precisamos de uma “uma conversão pastoral e missionária, que não pode deixar as coisas como estão” (25). 

Requer-se uma “reforma das estruturas” eclesiais para que “todas se tornem mais missionárias” (27), não hesitando em escrever que o próprio Papado deve ser também ele sujeito de conversão e reforma, sobretudo para se tornar “mais fiel ao significado que Jesus Cristo lhe quis dar e às necessidades actuais da evangelização”. 

O Papa sublinha o perigo inerente às “tentações dos agentes da pastoral”, nomeadamente o individualismo, a crise de identidade, o declínio no fervor (78). 

E acrescenta: 

“A maior ameaça” é “o pragmatismo incolor da vida quotidiana da Igreja, no qual aparentemente tudo procede na faixa normal, quando na realidade a fé se vai desgastando” (83). 

Desse modo, exorta os cristãos a não se deixarem levar por um “pessimismo estéril “ (84 ) e a serem sinais de esperança (86). 

Retomando um dos temas maiores do seu Pontificado, Papa Francisco vai ao cerne da questão e diz sobre o que realmente é preciso fazer, na Igreja e no mundo: a “revolução da ternura” (88). 

Falando dos desafios do mundo contemporâneo, o Papa denuncia o actual sistema económico, que “é injusto pela raiz” (59). “Esta economia mata” porque prevalece a “lei do mais forte”. A actual cultura do “descartável” criou “algo de novo”: “os excluídos não são ‘explorados’, mas ‘lixo’, 'sobras'“ (53). Vivemos uma “nova tirania invisível, por vezes virtual” de um “mercado divinizado”, onde reinam a “especulação financeira”, “corrupção ramificada”, “evasão fiscal egoísta” (56). 

Denuncia os “ataques à liberdade religiosa” e as “novas situações de perseguição dos cristãos ... Em muitos lugares trata-se pelo contrário de uma difusa indiferença relativista” (61). 

E alerta para a profunda «crise cultural» que a família atravessa. Ainda sobre a questão social, o Papa convida a cuidar dos mais fracos: “os sem-tecto, os dependentes de drogas, os refugiados, os povos indígenas, os idosos cada vez mais sós e abandonados” e os migrantes, em relação aos quais o Papa exorta os Países “a uma abertura generosa” (210 ). “Entre estes fracos que a Igreja quer cuidar” estão “as crianças em gestação, que são as mais indefesas e inocentes de todos, às quais hoje se quer negar a dignidade humana” (213) . “Não se deve esperar que a Igreja mude a sua posição sobre esta questão ... Não é progressista fingir resolver os problemas eliminando uma vida humana” (214). Neste contexto, um apelo ao respeito de toda a criação: “somos chamados a cuidar da fragilidade das pessoas e do mundo em que vivemos” (216). 

Naturalmente, só lendo e meditando o texto desta importante Exortação Apostólica do Papa Francisco se poderá alcançar o fruto, e os efeitos, que a mesma promete. A riqueza do documento parece ser vasta e profunda, terminando esta minha resenha com as seguintes considerações que na mesma se encontram: 

“Na nossa relação com o mundo somos convidados a dar a razão da nossa esperança, mas não como inimigos que apontam o dedo e condenam” (271). E Papa Francisco acrescenta: “Pode ser missionário apenas quem busca o bem do próximo, quem deseja a felicidade dos outros” (272): “se eu conseguir ajudar pelo menos uma única pessoa a viver melhor, isto já é suficiente para justificar o dom da minha vida” (274). 

Está, pois, na hora de trabalhar para que a Alegria do Evangelho possa ser descoberta pelo maior número possível de pessoas. E entre essas, cada um/a de nós. [A resenha aqui apresentada da Exortação Apostólica «Evangelii Gaudium» faz extenso recurso à nota hoje publicada pela secção portuguesa da Rádio Vaticana].

Este texto é do prof. João Vila-Chã, SJ e foi publicado hoje, no FB, em Ask a Jesuit (João J. Vila-Chã, SJ)

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

As catacumbas de Priscila estão disponíveis no Google Maps.


Conheça kilômetros das Catacumbas de Priscila, viajando pelo Google Maps




November 20, 2013 (Romereports.com) For years, these Roman catacombs were closed off, but now the Vatican has decided to open them completely for the world to see. In fact, thanks to Google Maps, people from every corner of the globe see the catacombs of Priscilla. The Pontifical Commission for Sacred Archeology, which is headed by Cardinal Gianfranco Ravasi, agreed to give the catacombs a digital presence.     


CARD. GIANFRANCO RAVASI 
President, Pontifical Commission for Sacred Archeology 
“This is actually the first time that something like this happens. It was carried out by Google Maps and you'll be able to see that it truly is an unedited experience that gives people the possibility of visiting the catacombs through different means.” 

So, history and new technology come together to show users miles of the catacombs. This one in particular, gives special insight on how early Christians lived in Rome. It houses the oldest fresco depicting the Virgin Mary. Also items that marked someone's death and even paintings from the 3rd and 4th centuries AD. 

BARBARA MAZZEI 
Catacombs of Priscilla 
“The catacombs are important because they provide physical proof of Christian history. It shows how early Christians lived out their faith. They expressed it along with frescoes and sculptures, that are now part of this new museum.” 

Actually walking, or rather clicking through these catacombs is easy. In addition to Google Maps, the museum has a new website that can directly connect users the digital tour experience, www.mupris.net. It also shows how some of the historical pieces were restored, including items that were found underground. Among that list are more than 700 sarcophagi fragments, which can now be seen at the museum. 

It has been more than 1700 years since these frescoes were first painted and since these sculptures were made, in this case technology is being used to travel back in time. 

Google Maps teams up with the Vatican: The 'Catacombs of Priscilla' go digital

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Um Sínodo como quer Francisco

A reportagem é de Sandro Magister e publicada no sítio Chiesa.it, 12-11-2013. A tradução é de André Langer.
Sínodo dos Bispos é a estrutura de governo da Igreja que, com o Papa Francisco, está em fase de revisão mais avançada. Ainda não se elaborou um projeto total de reforma, mas enquanto isso já estão em andamento algumas mudanças consideráveis.
As novidades
Uma primeira novidade é que tende a transformar o Sínodo em uma estrutura quase permanente. Sua próxima sessão ordinária, fixada para o outono de 2015, será precedida por uma sessão extraordinária, de 05 a 19 de outubro de 2014.
O tema será o mesmo: “Os desafios pastorais sobre a família no contexto da evangelização”. Mas as tarefas de ambas as sessões serão diferentes. Em 2014, atualizar-se-ão os novos fatos presentes na sociedade e serão recolhidos “testemunhos e propostas”; em 2015, tentar-se-á fixar “linhas operacionais para a pastoral”.
Entre as duas sessões realizar-se-á, na Filadélfia, o VIII Encontro Mundial das Famílias. Mas, sobretudo, reunir-se-á várias vezes o conselho da secretaria do Sínodo, formado por 12 cardeais e bispos dos cinco continentes escolhidos no Sínodo precedente, de 2012, e por outros três membros nomeados pelo Papa, além do secretário geral no cargo, o arcebispo Lorenzo Baldisseri, que atribuiu ao Papa Jorge Mario Bergoglio também “a vontade de potenciar as atividades” desta mesma secretaria.
A segunda novidade é a rapidez da fase preparatória. A qualificação de “extraordinária”, aplicada à sessão de 2014 – explicou-se – é sinônimo de “urgente”. A velocidade com que irrompem em todo o mundo novos modelos e novas concepções no campo familiar e sexual exige a mesma rapidez de resposta da Igreja.
Mas mais nova ainda é a modalidade adotada. Todos os Sínodos anteriores, no arco de meio século, haviam sido precedidos por documentos preparatórios prolixos, abstratos e chatos.
Desta vez é todo o contrário. No dia 18 de outubro, a secretaria do Sínodo transmitiu a todas as Conferências Episcopais um documento de trabalho conciso e concreto.
Basta ver a concisão com que são descritos, desde o início, as mudanças que houve na sociedade sobre a família: “Hoje perfilam-se problemáticas até há poucos anos inéditas, desde a difusão dos casais de fato, que não acedem ao matrimônio e às vezes excluem esta própria ideia, até às uniões entre pessoas do mesmo sexo, às quais não raramente é permitida a adoção de filhos. Entre as numerosas novas situações que exigem a atenção e o compromisso pastoral da Igreja, será suficiente recordar: os matrimônios mistos ou inter-religiosos; a família monoparental; a poligamia; os matrimônios combinados, com a consequente problemática do dote, por vezes entendido como preço de compra da mulher; o sistema das castas; a cultura do não-comprometimento e da presumível instabilidade do vínculo; as formas de feminismo hostis à Igreja; os fenômenos migratórios e reformulação da própria ideia de família; o pluralismo relativista na noção de matrimônio; a influência dos meios de comunicação sobre a cultura popular na compreensão do matrimônio e da vida familiar; as tendências de pensamento subjacentes a propostas legislativas que desvalorizam a permanência e a fidelidade do pacto matrimonial; o difundir-se do fenômeno das mães de substituição (‘barriga de aluguel’); e as novas interpretações dos direitos humanos. Mas, sobretudo no âmbito mais estritamente eclesial, o enfraquecimento ou abandono da fé na sacramentalidade do matrimônio e no poder terapêutico da penitência sacramental.
A partir de tudo isto compreende-se como é urgente que a atenção do episcopado mundial, ‘cum et sub Petro’, enfrente estes desafios. Se, por exemplo, pensarmos unicamente no fato de que no contexto atual muitos adolescentes e jovens, nascidos de matrimônios irregulares, poderão nunca ver os seus pais aproximar-se dos sacramentos, compreenderemos como são urgentes os desafios apresentados à evangelização pela situação atual, de resto difundida em todas as partes da ‘aldeia global’. Esta realidade encontra uma correspondência singular no vasto acolhimento que tem, nos nossos dias, o ensinamento sobre a misericórdia divina e sobre a ternura em relação às pessoas feridas, nas periferias geográficas e existenciais: as expectativas que disto derivam, a propósito das escolhas pastorais relativas à família, são extremamente amplas. Por isso, uma reflexão do Sínodo dos Bispos a respeito destes temas parece tanto necessária e urgente quanto indispensável, como expressão de caridade dos Pastores em relação a quantos lhes são confiados e a toda a família humana.”
A esta primeira parte descritiva segue-se, no documento, uma segunda parte que recapitula o ensinamento da Sagrada Escritura e do magistério da Igreja sobre a família, desde a Gaudium et Spes até a Lumen Fidei, com a clara e patente presença do Catecismo.
E, por último, a parte que mais atraiu a atenção dos meios de comunicação, um questionário com 39 perguntas deste tipo:
“Quais são os pedidos que as pessoas separadas e divorciadas dirigem à Igreja, a propósito dos sacramentos da Eucaristia e da Reconciliação? Entre as pessoas que se encontram em tais situações, quantas pedem estes sacramentos?”
Ou: “Existem uniões livres de fato, sem o reconhecimento religioso nem civil? Dispõem-se de dados estatísticos confiáveis?”.
Ou ainda: “No caso de uniões de pessoas do mesmo sexo que adotaram crianças, como é necessário comportar-se pastoralmente, em vista da transmissão da fé?”.
O questionário deverá circular em todas as dioceses e, seria desejável, em todas as paróquias “com o objetivo de reunir dados concretos e reais sobre a temática sinodal”. Mas também grupos ou fiéis poderão enviar, individual e autonomamente, suas respostas a Roma.
A data limite para a devolução foi fixada para o final de janeiro. Em fevereiro, o conselho da secretaria do Sínodo voltará a se reunir para elaborar, com base nos resultados, outro documento preparatório para ser distribuído entre os padres sinodais.
As incógnitas
Até aqui as principais novidades. Mas, junto com estas e, em qualquer caso, por causa destas, perfilam-se também algumas incógnitas.
Os dados estatísticos que o questionário poderá dar, tal como foi compilado e pela variedade de respostas que se prevê, serão provavelmente pouco concretos. E é fácil que se transforme em um poderoso instrumento de pressão, por exemplo, influindo sobre as respostas favoráveis à comunhão dos divorciados em segunda união.
É um risco que o arcebispo Bruno Forte, secretário especial do Sínodo Extraordinário de 2014, ainda não resolveu quando, ao apresentar o questionário à imprensa no dia 05 de novembro, disse que o Sínodo “não deve decidir por maioria ou seguir a opinião pública”, mas também que “seria errôneo ignorar que uma parte considerável da opinião pública tem uma certa exigência”.
Outra incógnita deriva da articulação em dois tempos da convocatória sinodal. Os “testemunhos e propostas” que surgirão da primeira sessão extraordinária, a de outubro de 2014, previsivelmente serão muito variados. E seguramente haverá alguns orientados a mudar sensivelmente a linha que até agora a Igreja percorreu.
Isto criará fortes expectativas na opinião publica, dentro e fora da Igreja. E se descarregarão na seguinte sessão ordinária do Sínodo, a de 2015, que deverá formular as escolhas operacionais que deverá apresentar ao Papa para a decisão final.
É um risco que já se verifica com o Papa Francisco, cujas declarações são, muitas vezes, assumidas pelos meios de comunicação como anunciadoras de mudanças, para além do que realmente dizem.
Mas é um risco que o próprio Papa enfrenta deliberadamente, como podemos ver quando analisamos o seu comportamento.
O método Bergoglio
Após oito meses de pontificado, o estilo de Francisco já é reconhecível. “Este tempo é um ‘kairós’ de misericórdia”, disse aos jornalistas no dia 28 de julho durante o voo de volta do Rio de Janeiro, indicando com isso a prioridade que ele mesmo se havia proposto.
Sobre as questões que se debatem em relação à família, o Papa Bergoglio é de uma ortodoxia doutrinal indiscutível: “Conhecemos a opinião da Igreja e eu sou filho da Igreja”, disse sucintamente na entrevista à revista La Civiltà Cattolica.
Mas a exposição da doutrina a deixa a outros, e ele se reserva a aproximação misericordiosa do médico de almas, que se inclina sobre os feridos como em um “hospital de campanha”.
Uma questão à qual o Papa Francisco aplicou este duplo registro de intervenção é precisamente o tema da comunhão aos católicos divorciados e em segunda união. Quando ele fala deste tema, gosta de ressaltar que “a Igreja é mãe e deve trilhar o caminho da misericórdia”, suscitando com isto expectativas de mudança da práxis vigente.
Ao mesmo tempo, no entanto, confiou ao prefeito da Congregação para a Doutrina da FéGerhard Ludwig Müller, a tarefa de confirmar, em tudo e por tudo, o ensino da Igreja sobre este tema e, portanto, as razões do não à comunhão.
longo artigo de Müller publicado sobre isto no L’Osservatore Romano” de 23 de outubro não era novo. Já havia sido publicado tal qual no dia 15 de junho na Alemanha no Die Tagespost, antes inclusive de Müller ser confirmado pelo Papa em seu papel de prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.
Mas a partir da primavera foram aumentando os sinais de impaciência entre o clero e os bispos de vários países, inclinados a um relaxamento do não à comunhão dos divorciados em segunda união.
No começo de outubro havia causado sensação um documento de uma oficina pastoral da arquidiocese de Friburgo, a mesma do presidente da Conferência Episcopal da AlemanhaRobert Zollitsch, que animava o acesso à comunhão dos divorciados em segunda união, simplesmente sobre a base de “uma decisão de consciência tomada de maneira responsável” e “com a necessária disposição de fé”.
Foi neste momento que o Papa considerou oportuno consolidar os pilares da doutrina, combinando com Müller tanto a publicação do artigo no L’Osservatore Romano, como sua contemporânea divulgação em vários idiomas.
No artigo, Müller critica também quem desvincula a misericórdia de Deus da obrigação de observar os seus mandamentos, quem desvincula a consciência do dever de buscar a verdade e quem quisesse admitir na Igreja católica um segundo ou terceiro casamento, como nas Igrejas ortodoxas.
Está fora de qualquer dúvida que também sobre estes três pontos há pleno acordo entre o Papa e seu prefeito daDoutrina. Mas isto não é óbice para que, no que diz respeito a estes mesmos três pontos, Francisco siga expressando-se à sua maneira, com essa escolha de palavras que é o segredo da sua popularidade, mas também a origem de equívocos interpretativos e de um excesso de expectativas.
Um claro exemplo deste duplo registro comunicativo diz respeito ao tema do segundo casamento permitido pelas Igrejas ortodoxas.
Enquanto Müller, em seu artigo, afirma taxativamente que “esta práxis não é coerente com a vontade de Deus, claramente expressada nas palavras de Jesus sobre a indissolubilidade do matrimônio”, o Papa Francisco, no avião de volta do Brasil se expressava com estas palavras sibilinas:
“Abro um parêntese: os ortodoxos têm uma prática diferente. Eles seguem a teologia da economia, como a chamam, e dão uma segunda possibilidade; eles o permitem. Mas creio que este problema (fecho o parêntese) deve ser estudado no marco da pastoral matrimonial”.
Outro exemplo da oscilação comunicativa refere-se aos processos canônicos de verificação da nulidade de um matrimônio.
Repetidamente, o Papa Francisco fez entrever a necessidade de “revisar” as modalidades destas verificações, na suposição de que os casamentos nulos sejam, na realidade, muito mais numerosos do que garantem os tribunais eclesiásticos.
E todos estes gestos foram interpretados cada vez mais como presságio de facilitação dos reconhecimentos de nulidade. Na mesma direção de um reescrito de Bento XVI de 11 de fevereiro passado – dia do anúncio da sua renúncia ao papado – que aboliu a necessidade de “uma segunda decisão conforme” para que as sentenças da Rota Romana, que declaram a nulidade de um casamento, sejam executivas.
Mas no dia 08 de novembro, em um discurso à plenária do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica, o Papa Francisco fez uma forte defesa do “defensor do vínculo”, isto é, do advogado que em cada processo matrimonial tem o dever de “propor todo tipo de provas, de exceções, recursos e apelações que, no respeito à verdade, favoreçam a defesa do vínculo”.
Piloto e co-piloto. Acelerador e freio. A direção do Papa Bergoglio é feita dessa maneira.