Na sexta-feira depois da oitava da festa de Corpus Christi, a Igreja celebra a festa do
Sagrado Coração de Jesus.
A devoção ao Sagrado Coração tem sua origem na Sagrada Escritura.
O coração é um dos modos para falar do infinito amor de Deus por você. Este amor chega a seu ponto alto com a vinda de Jesus.
Dom Irineu Roque Scherer
Bispo de Joinville
A devoção ao Sagrado Coração aparece em dois acontecimentos fortes do evangelho: o gesto de São João, discípulo amado, encostando a sua cabeça em Jesus durante a última ceia (cf. Jo 13,23); e na cruz, onde o soldado abriu o lado de Jesus com uma lança (cf. Jo 19,34). Em um, temos o consolo pela dor da véspera de sua morte, e no outro, o sofrimento causado pelos pecados da humanidade.
De acordo com os desejos de Nosso Senhor, manifestados a Santa Margarida Maria Alacoque, deve ser dia de reparação pela ingratidão, frieza, desprezo e sacrilégios que muitas vezes sofreu na Eucaristia, por parte de maus cristãos, e às vezes até por parte de pessoas que se presumem piedosas.
No dia 16 de junho de 1675, durante uma exposição do Santíssimo Sacramento, Jesus apareceu a Santa Margarida Maria Alacoque e, descobrindo seu Coração, disse-lhe: "Eis o coração que tanto tem amado aos homens e em recompensa não recebe, da maior parte deles, senão ingratidões pelas irreverências e sacrilégios, friezas e desprezos que tem por Mim neste Sacramento de Amor".
Por esses dados não será supérfluo salientar o vínculo indissociável entre o Sagrado Coração e o Sacramento da Eucaristia. Neste, Jesus está realmente presente em corpo, sangue, alma e divindade. Portanto, nele se acha vivo e palpitante o seu Coração adorável que convida a si todos os homens.
Entre as muitas e ricas promessas que Jesus Cristo fez aos que fossem devotos de seu Sagrado Coração, sempre chamou a atenção a que fez aos que comungassem em sua honra durante as nove primeiras sextas-feiras do mês seguidos: "Eu te prometo, na excessiva misericórdia de meu Coração, que meu amor todo poderoso concederá a todos os que comungarem nove primeiras sextas feiras do mês seguidos a graça final da penitência; não morrerão em pecado nem sem receber os sacramentos, e meu divino Coração lhe será asilo seguro naquele último momento". É tal, que todos a conhecem com o nome da Grande Promessa.
Jesus nos revelou através da jovem Santa Margarida Maria doze grandes promessas: 1. A minha bênção permanecerá sobre as casas em que se achar exposta e venerada a imagem de meu Sagrado Coração; 2. Dar-lhes-ei todas as graças necessárias ao seu estado; 3. Porei paz em suas famílias; 4. Consolá-los-ei em todas as suas aflições; 5. Serei o seu refúgio na vida e principalmente na morte; 6. Derramarei abundantes bênçãos sobre todas as suas empresas; 7. Os pecadores acharão no meu Coração o manancial e o oceano infinito de misericórdia; 8. As almas tíbias tornar-se-ão fervorosas; 9. As almas fervorosas subirão em pouco tempo a uma alta perfeição; 10. Darei aos sacerdotes que praticarem especialmente essa devoção o poder de tocar os corações mais endurecidos; 11. As pessoas que propagarem esta devoção terão os seus nomes escritos no meu Coração, para nunca dele serem apagados; 12. A todos os que comunguem nas primeiras sextas-feiras de nove meses consecutivos, darei a graça da perseverança final e da salvação eterna.
A devoção ao coração divino de Jesus Cristo começou a ser praticada, em sua essência, já no início da Igreja, pois os Santos tiveram muito presente, o coração de Jesus, símbolo de seu amor. Santa Margarida Maria de Alacoque foi a primeira pessoa a quem Jesus revelou o Seu Sagrado Coração (por meio de diversas aparições) e foi a primeira responsável pela divulgação do seu culto e devoção ao mundo. Santa Gertrudes, a Grande (1256-1302), compôs esta Oração expressando o seu Amor: "Eu vos saúdo, ó Sagrado Coração de Jesus, fonte viva e vivificante de vida eterna, tesouro infinito da divindade, fornalha ardente do amor de Deus..."
"Aprendei do Coração de Deus e nas
próprias palavras de Deus, para poderdes
aspirar ardentemente às coisas eternas"
Santa Catarina de Siena elevou até um grau extraordinário o amor que dedicou a esta devoção: ofereceu o coração todo inteiro ao seu divino esposo, tendo obtido em troca o próprio coração de Jesus. A Beata Maria do Divino Coração, condessa de Droste zu Vischering, foi uma religiosa da Congregação das Irmãs do Bom Pastor que pediu, em nome do próprio Jesus Cristo, ao Papa Leão XIII que ele consagrasse todo o Mundo ao Sagrado Coração de Jesus. Tal fato veio a ocorrer a 11 de Junho de 1899, logo após a publicação da Encíclica Annum Sacrum.
E todos os que leram a vida e a obra de Santos como São Francisco de Assis, São Tomás de Aquino, Santa Teresa de Ávila, São Boaventura, Santo Inácio de Loyola, São Francisco Xavier, São Filipe de Néri, São Francisco de Sales, São Luís de Gonzaga, Santa Faustina, entre outros, poderão ver a terna devoção, a admiração e a adoração que estes santos dedicavam ao Sagrado Coração de Jesus.
Muitos Papas também divulgaram com seu próprio testemunho a devoção do Sagrado Coração e da Eucaristia. O Papa São Gregório Magno disse: "Aprendei do Coração de Deus e nas próprias palavras de Deus, para poderdes aspirar ardentemente às coisas eternas". Leão XIII consagrou o mundo ao Sagrado Coração de Jesus. O Papa São Pio X também recomendou esta devoção tal como o Papa Pio XI e como, já antes, o fizera o bem-aventurado Papa Pio IX. Pio XII, mais de uma vez, recomendou esta devoção em cartas encíclicas e dizia que "a Igreja teve sempre em tal estima a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, e de tal modo continua a considerá-la, que se empenha totalmente no sentido de a manter florescente em todo o mundo, e de a promover por todos os meios possíveis. O seu coração é o sinal natural e o símbolo do seu amor sem limites para com a humanidade".
O papa João Paulo II sempre cultivou esta devoção, e a incentivava a todos que desejassem crescer na amizade com Jesus. Do mesmo modo, o papa Bento XVI é devoto do Sagrado Coração de Jesus e anima "os fiéis para que mantenham esta bonita tradição" (Saudação aos peregrinos, Vaticano, 15 de junho de 2011).
Portanto, não percamos a íntima ligação entre a Eucaristia, que colocamos em relevo especial na festa de Corpus Christi, e o festa do Sagrado Coração de Jesus, que nos chamam à intimidade com Jesus, Caminho, Verdade e Vida.
Por Dom Irineu Roque Scherer, Bispo de Joinville.
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