Esse livro, editado por Damiano Modena, reúne, seguindo o calendário litúrgico, aquelas intervenções que compõem assim um relato da vida de Cristo, oferecendo uma mensagem não só filosófica e teológica, mas também centrada nos valores mais profundos e nas atitudes "mais humanas" da vida.
O trecho que segue fala sobre uma descrição "teológica" da comunicação, isto é, “que parta do comunicar-se de Deus aos seres humanos”.
Eis o texto.
Geralmente dá-se uma definição empírica à comunicação: comunicar é "dizer algo a alguém". Em que esse "algo" pode se alargar em nível planetário, através do grande mundo da rede que se somou aos meios de comunicação clássicos. Mesmo esse "alguém" sofreu um crescimento no plano global, a tal ponto de que os ouvintes ou os fruidores da mensagem em tempo real não podem mais nem mesmo ser calculados.
Essa concepção empírica, à luz do atual alargamento de perspectivas, onde cada vez mais se comunica sem ver o rosto do outro, fez emergir com clareza o problema maior da comunicação, ou seja, o seu acontecer muitas vezes só exteriormente, mantendo-se no plano das informações nuas, sem que aquele que comunica e aquele que recebe a comunicação sejam nele muito envolvidos.
Por isso, eu gostaria de tentar dar à comunicação uma descrição "teológica", isto é, que parta do comunicar-se de Deus aos seres humanos, e gostaria de fazer isso enunciando aqui algumas reflexões que poderiam servir para uma nova descrição do fenômeno.
No túmulo de Jesus, na noite da Páscoa, realiza-se o gesto de comunicação mais radical de toda a história da humanidade. O Espírito Santo, vivificando Jesus ressuscitado, comunica ao seu corpo o próprio poder de Deus. Comunicando-se a Jesus, o Espírito se comunica à humanidade inteira e abre caminho para toda comunicação autêntica. Autêntica porque comporta o dom de si mesmo, superando assim a ambiguidade da comunicação humana em que nunca se sabe até que ponto sujeito e objeto estão envolvidos.
A comunicação, portanto, será acima de tudo aquela que o Pai faz de si mesmo a Jesus, depois aquela que Deus faz a cada homem e mulher, e portanto aquela que nós nos fazemos reciprocamente sobre o modelo dessa comunicação divina. O Espírito Santo, que recebemos graças à morte e à ressurreição de Jesus, e que nos faz viver na imitação do próprio Jesus, preside em nós o espírito de comunicação. Ele põe em nós características, como a dedicação e o amor pelo outro, que nos remetem às do Verbo encarnado. Daí podemos deduzir algumas conclusões sobre cada uma das nossas relações comunicativas.
Primeiro. Cada uma das nossas comunicações tem em sua sua raiz a grande comunicação que Deus fez ao mundo do seu Filho Jesus e do Espírito Santo, através da vida, morte e ressurreição de Jesus e da vida do próprio Jesus na Igreja. Entende-se, por isso, como os Livros sagrados, que que basicamente falam dessa comunicação, são obras de grande valor para a história do pensamento humano. É verdade que os livros de outras religiões também podem ser ricos de conteúdo, mas isso se deve ao fato de que subjaz a eles o dado fundamental de Deus que se doa ao ser humano.
Segundo. Toda comunicação deve ter presente como fundamento a grande comunicação de Deus, capaz de dar o ritmo e a medida justos a todo gesto comunicativo. Segue-se disso que um gesto será mais comunicativo quando não só comunicar informações, mas também colocar em relação as pessoas. É por isso que a comunicação de uma verdade abstrata, mesmo na catequese, parece carente com relação à plena comunicação que se enraíza no dom de Deus ao ser humano.
Terceiro. Toda mentira é uma rejeição dessa comunicação. Quando nos confiamos com coragem à imitação de Jesus, sabemos que somos também verdadeiros e autênticos. Quando nos separamos desse espírito, tornamo-nos opacos e não comunicantes.
Quarto. A comunicação nas famílias e nos grupos também depende desse modelo. Ela não é apenas transmissão de ordens ou proposta de regulamentos, mas também pressupõe uma dedicação, um coração que se doa e que, portanto, seja capaz de mover o coração dos outros.
Quinto. A comunicação na Igreja também obedece a essas leis. Ela não transmite só ordens e preceitos, proibições ou interdições. É intercâmbio dos corações na graça do Espírito Santo. Por isso, as suas características são a confiança mútua, a parrésia, a compreensão do outro, a misericórdia.
O trecho que segue fala sobre uma descrição "teológica" da comunicação, isto é, “que parta do comunicar-se de Deus aos seres humanos”.
Eis o texto.
Geralmente dá-se uma definição empírica à comunicação: comunicar é "dizer algo a alguém". Em que esse "algo" pode se alargar em nível planetário, através do grande mundo da rede que se somou aos meios de comunicação clássicos. Mesmo esse "alguém" sofreu um crescimento no plano global, a tal ponto de que os ouvintes ou os fruidores da mensagem em tempo real não podem mais nem mesmo ser calculados.
Essa concepção empírica, à luz do atual alargamento de perspectivas, onde cada vez mais se comunica sem ver o rosto do outro, fez emergir com clareza o problema maior da comunicação, ou seja, o seu acontecer muitas vezes só exteriormente, mantendo-se no plano das informações nuas, sem que aquele que comunica e aquele que recebe a comunicação sejam nele muito envolvidos.
Por isso, eu gostaria de tentar dar à comunicação uma descrição "teológica", isto é, que parta do comunicar-se de Deus aos seres humanos, e gostaria de fazer isso enunciando aqui algumas reflexões que poderiam servir para uma nova descrição do fenômeno.
No túmulo de Jesus, na noite da Páscoa, realiza-se o gesto de comunicação mais radical de toda a história da humanidade. O Espírito Santo, vivificando Jesus ressuscitado, comunica ao seu corpo o próprio poder de Deus. Comunicando-se a Jesus, o Espírito se comunica à humanidade inteira e abre caminho para toda comunicação autêntica. Autêntica porque comporta o dom de si mesmo, superando assim a ambiguidade da comunicação humana em que nunca se sabe até que ponto sujeito e objeto estão envolvidos.
A comunicação, portanto, será acima de tudo aquela que o Pai faz de si mesmo a Jesus, depois aquela que Deus faz a cada homem e mulher, e portanto aquela que nós nos fazemos reciprocamente sobre o modelo dessa comunicação divina. O Espírito Santo, que recebemos graças à morte e à ressurreição de Jesus, e que nos faz viver na imitação do próprio Jesus, preside em nós o espírito de comunicação. Ele põe em nós características, como a dedicação e o amor pelo outro, que nos remetem às do Verbo encarnado. Daí podemos deduzir algumas conclusões sobre cada uma das nossas relações comunicativas.
Primeiro. Cada uma das nossas comunicações tem em sua sua raiz a grande comunicação que Deus fez ao mundo do seu Filho Jesus e do Espírito Santo, através da vida, morte e ressurreição de Jesus e da vida do próprio Jesus na Igreja. Entende-se, por isso, como os Livros sagrados, que que basicamente falam dessa comunicação, são obras de grande valor para a história do pensamento humano. É verdade que os livros de outras religiões também podem ser ricos de conteúdo, mas isso se deve ao fato de que subjaz a eles o dado fundamental de Deus que se doa ao ser humano.
Segundo. Toda comunicação deve ter presente como fundamento a grande comunicação de Deus, capaz de dar o ritmo e a medida justos a todo gesto comunicativo. Segue-se disso que um gesto será mais comunicativo quando não só comunicar informações, mas também colocar em relação as pessoas. É por isso que a comunicação de uma verdade abstrata, mesmo na catequese, parece carente com relação à plena comunicação que se enraíza no dom de Deus ao ser humano.
Terceiro. Toda mentira é uma rejeição dessa comunicação. Quando nos confiamos com coragem à imitação de Jesus, sabemos que somos também verdadeiros e autênticos. Quando nos separamos desse espírito, tornamo-nos opacos e não comunicantes.
Quarto. A comunicação nas famílias e nos grupos também depende desse modelo. Ela não é apenas transmissão de ordens ou proposta de regulamentos, mas também pressupõe uma dedicação, um coração que se doa e que, portanto, seja capaz de mover o coração dos outros.
Quinto. A comunicação na Igreja também obedece a essas leis. Ela não transmite só ordens e preceitos, proibições ou interdições. É intercâmbio dos corações na graça do Espírito Santo. Por isso, as suas características são a confiança mútua, a parrésia, a compreensão do outro, a misericórdia.
O artigo foi publicado no jornal dos bispos italianos, Avvenire, 12-09-2012.
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