Eu me lembro de dom Eugênio como a elegância da Igreja na nossa cidade.
Gente, eu não vi, mas ouvi encantada que ele celebrou lá no alto, nos Arcos da Lapa ! Quanta modernidade nesse homem que sabia olhar o céu e parecia escondido num tênue manto de conservadorismo.
Eu conheci Dom Eugênio.
Mas disso, muito pouco ou quase nada eu poderia dizer de seus dons. Os verdadeiros dons de Dom Eugênio, eu só fui percebendo quando aprendi a amá-lo pelo amor de alguns de seus amigos mais queridos, aqueles que o acompanharam nas alegrias e nas tristezas.
Eu me lembro de dom Eugênio como um cristão apaixonado por São Paulo, o apóstolo, e louco de amores por Nosso Senhor Jesus Cristo.
Eu me lembro de dom Eugênio como um cristão que verdadeiramente acolheu a humildade do Cristo. Lá na Paróquia da Ressurreição, nas cerimônias do lava-pés.
Caramba ! Entrava na Igreja com a soberana pompa de um Rei, e recebia aos beijos os pés mais humildes.
E eu, sempre pronta a travar um diálogo comigo mesma, dava muito pano para mangas teológicas, a respeito do dom de Dom Eugênio de unir momentos evangélicos.
Aí estava meu prato predileto: a Quinta-Feira da Semana Santa. Tinha que chegar cedo na Paróquia da Ressurreição - a tempo de conseguir um espaço (para me sentar) e orar ainda no silêncio da Casa do Senhor e depois contemplar ...
A entrada solene de Dom Eugênio, na minha contemplação, fazia rebobinar o ¨vídeo litúrgico¨ até o domingo de Ramos e a sua saída da Igreja já deixava o vídeo avançando para a Paixão, tudo junto, na mesma celebração, e eu lá, contemplando o meu Senhor, como só uma súdita do Reino de Deus saboreia sentir, diante de um mediador da grandeza de Dom Eugênio.
Eu sou membro da União dos Juristas Católicos da Arquidiocese do Rio de Janeiro.
Eu tenho a honra de haver sido acolhida na União, pelas mãos de Dom Eugênio.
Eu sei do orgulho que Dom Eugênio tem do trabalho desenvolvido pela União dos Juristas Católicos, criada por incentivo dele para cuidar do ¨outro¨, assim como a União dos Médicos Católicos da Arquidiocese do Rio que, ¨juntas¨ fazem um trabalho admirável nos lugares onde o braço do poder público mal consegue alcançar.
Mas Dom Eugênio tinha um coração que via as necessidades e via o que é trabalho para um braço e o que é trabalho para muitos corações.
Eu me lembro de dom Eugênio como pai de uma belíssima geração de sacerdotes e leigos, que ele criou com sua Fé.
Hoje, ao ver na TV as cenas da madrugada, na primeira oração por sua vida, ainda na sua casa do Sumaré, lá estavam vários desses filhos e filhas que Dom Eugênio criou para a Igreja de nosso Senhor Jesus Cristo.
Na primeira fila, o Monsenhor que todo mundo no Arpoador chama com justo carinho de pe. Zé Roberto, que montou na Arquidiocese o Museu de Arte Sacra e sempre teve esta parceria filial com Dom Eugênio, a quem ele nunca escondeu amar e respeitar como Pai e Pastor.
Algumas filas atrás eu vi, distante e recolhida, a fiel escudeira de Dom Eugênio, realizadora de tantos projetos pastorais de nosso Dom, a corajosa Maria Christina Sá, organizadora de tantos eventos que o empreendorismo de Dom Eugênio não cansava de apoiar. Quantas pastorais, quantas lutas para manter essas pastorais, o trabalho com as idas e as vindas do Papa à nossa cidade, sem falar numa rotina diária que impressiona pelo incrível elan evangelizador de Dom Eugênio.
Maria Christina, que já subiu a um ¨ambão¨ no Vaticano para dar testemunho feminino do seu trabalho, ela que recebeu aplausos do Papa, sabe que agiu incansavelmente por décadas em obediência à Igreja, e ao melhor resultado dessas décadas vividas por Dom Eugênio no Rio.
Quem conhece a força desta batalhadora da Igreja sabe que ela não é uma empresária (mas poderia ser). Ela é a mulher da práxis ! Filósofa de formação, cata crianças e lhes dá um lar, senta nas calçadas para conversar com um ou outro morador de rua, não passa um dia sem descobrir um novo próximo que precisa de ajuda. Ela respira e sintetiza a Pastoral do Menor, e o bonito é que muito do que Maria Christina Sá faz acontecer em nossa cidade é parte do que Dom Eugênio sonhou.
Eu tenho 63 anos de idade. E quando nasci, Dom Eugênio já era um sacerdote ! Olho a distância do meu caminho percorrido e me vem à memória o discurso de despedida de Dom Eugênio, quando se afastou da condução da Arquidiocese do Rio de Janeiro, em que ele se despede com as palavras de São Paulo:
Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. 2Tm 4,7
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